segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

OS DEZ PONTOS DA NOVA EVANGELIZAÇÃO




Salvador, 5 de dezembro de 2011




Prezados amigos

Prezadas amigas

Paz e Bem.



Gostaria de comunicar a todos vocês, sobretudo aos Missionários e às Missionárias da Paróquia de São Miguel de Cotegipe, OS DEZ MANDAMENTOS DA NOVA EVANGELIZAÇÃO NO BRASIL.



1) Nova Evangelização: com novo ardor

2) Nova Evangelização: com novos métodos

3) Nova Evangelização: com novas expressões

4) Nova Evangelização: no primeiro anúncio que é: você é amado por Deus

5) Nova Evangelização: destinada a formar comunidades cristãs maduras

6) Nova Evangelização: evangelizar-se para evangelizar

7) Nova Evangelização: evangelizar pelo amor ao próximo concretamente (obras de misericórdia.

8) Nova Evangelização: pelo testemunho do amor recíproco

9) Nova Evangelização: mirando à santidade

10) Nova Evangelização: pelo anuncio da Palavra



Como a nossa Paróquia de São Miguel de Cotegipe está em clima de SANTAS MISSÕES até a próxima festa do nosso Padroeiro São Miguel, que será em setembro do próximo ano; mas que, como a pedido do nosso Pároco Pe. Alex o espírito missionário deve ser sempre, e cada católico deve estar sempre em missão, eis os dez mandamentos da Nova Evangelização que também servirá para nós missionários.

Feliz Natal para cada um de vocês.



Frei Severino.

terça-feira, 24 de maio de 2011

TEMOS A PRIMEIRA BEATA DA BAHIA



Irmã Dulce é beatificada em Salvador


Cerimônia religiosa teve presença de presidente Dilma Rousseff, tucano José Serra, os Governadores: da Bahia, Jackes Wagener, de São Paulo, Geraldo Alckmim; do Presidente do Senado José Sarney, do Presidente da Câmara dos Deputados Estaduais da Bahia, Nilo, do Prefeito de Salvador, Joao Henrique, os deputados federais tucanos Antônio Imbassahy e Jutahy Júnior .....
No campo religioso a cerimônia contou com a presença do Núncio Apóstoloco do Brasil, também se fez presente o Arcebispo de Salvador, Dom Murilo, e mais de trinta Arcebispos e Bispos, além dos 600 Padres, e muitos Relikgiosos, Religioosas, Diáconos e Seminaristas.


A religiosa baiana Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, conhecida como Irmã Dulce (1914-1992), foi beatificada em cerimônia neste domingo, 22 de maio de 2011, em Salvador.Conhecida como “anjo bom da Bahia” em razão de seu trabalho assistencial, Irmã Dulce passa a ostentar a denominação de Bem-Aventurada Dulce dos Pobres. Com a beatificação, fica a um passo de receber o título de santa pela Igreja Católica Apostólica Romana, principal ramo do catolicismo no País.

A beatificação é a etapa que antecede a canonização - o título de santa será concedido caso haja comprovação, com aval do Vaticano, de mais um milagre atribuído à religiosa. O beato é tido pelo Vaticano como exemplo para fiéis católicos pelo mundo.

Em outubro de 2010, o Vaticano reconheceu o primeiro milagre intercedido por Irmã Dulce, cujos detalhes foram divulgados na semana passada. A freira teria motivado a recuperação de uma mulher sergipana, desenganada após sofrer 28 horas de hemorragia durante o parto.

Para a Igreja Católica, uma graça é considerada milagre se atender a quatro pontos: instantaneidade (graça alcançada logo após o pedido), perfeição (atendimento completo do pedido), durabilidade e permanência e não-explicação pela ciência.

Cerimônia sob chuva

A celebração deste domingo, sob chuva forte em alguns momentos, reuniu milhares de católicos no parque de exposições de Salvador. Começou as 14 horas, com uma apresentação artística. A missa teve início por as 17 horas, com cerca de 600 Padres, mais de trinta arcebispos e bispos, e muitos diáconos; Religiosos e Religiosas e seminaristas.

A beatificação se confirmou com a leitura de carta do Papa Bento XVI que inscreveu Irmã Dulce na relação dos beatos da Igreja Católica. Houve ainda o anúncio da data de 13 de agosto como dia de celebração da festa litúrgica da nova beata Irmã Dulce.

Com a beatificação de irmã Dulce, o Brasil passa a contar com cerca de 70 beatos, candidatos potenciais a santos. Considerada a maior nação católica do mundo, com 73% da população católica pelo Censo 2000, o Brasil tem apenas um santo nascido no País, o Frei Galvão (1739-1822), canonizado em 2007 pelo papa Bento XVI
Dilma confirmou presença na sexta-feira e ficou em uma tenda coberta.

O Papa Bento XVI deu sequência à linha de seu antecessor, João Paulo 2º (1920-2005), beatificado No dia primeiro deste mês e que fez da proclamação de Santos uma forma de evangelização. “O Brasil precisa de santos, muitos santos”, dissera o Papa João Paulo II.

Políticos marcaram presença

A beatificação da freira também recebeu políticos governistas e da oposição. A presidente Dilma Rousseff (PT), em sua primeira viagem após pneumonia diagnosticada no final de abril, chegou ao local da missa por volta das 17h10, acompanhada pelo governador da Bahia, Jaques Wagner (PT).

Em outubro de 2009, quando ainda era pré-candidata à Presidência, a então ministra da Casa Civil visitou a sede da entidade filantrópica fundada por irmã Dulce em Salvador. Em junho de 2010, durante ato que confirmou sua candidatura à reeleição.

Na cerimônia desde domingo, Dilma se sentou em uma tenda coberta, ao lado do Governador Jacles Wagner e do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A estrutura foi montada de última hora para abrigar a presidente, que confirmou presença somente na sexta-feira, 20 de maio.
O ex-governador José Serra teve que usar uma capa de chuva

Em outro ponto da celebração, sob chuva, ficou o candidato do PSDB na última eleição presidencial, José Serra. Ao lado dos deputados federais tucanos Antônio Imbassahy e Jutahy Júnior em área ampla reservada a convidados, Serra não se encontrou com Dilma e teve que usar uma capa de plástico durante momentos da cerimônia.

A presidente Dilma não falou com a imprensa durante a passagem por Salvador. Deixou o parque de exposições às 19h25, sob forte chuva e ainda durante os últimos cânticos da missa, e seguiu para Brasília.

A ESTRUTURA PARA A FELICIDADE PÚBLICA.




Prefeitura monta esquema especial para beatificação de Irmã Dulce


Serviços envolvem as áreas de limpeza, saúde, segurança, transporte e ordenamento e fiscalização de ambulantes
A Prefeitura do Salvador montou um esquema especial para atender o público de 70 mil baianos e turistas que participam neste domingo, 22 de maio de 2011, da cerimônia de Beatificação de Irmã Dulce, a partir das 12 horas, no Parque de Exposições de Salvador.

Os serviços envolvem as áreas de limpeza, saúde, segurança, transporte e ordenamento e fiscalização de ambulantes. O evento exigiu uma operação exclusiva da Transalvador.

A Samu esteve presente com três postos médicos volantes e duas ambulâncias. Já a Limpurb vai instalar 750 sanitários químicos e 50 coletores de armazenagem de lixo. A Secretaria de Serviços Públicos (Sesp) atuou na fiscalização de ambulantes. A Guarda Municipal contou com 72 agentes para garantir mais tranquilidade aos participantes. 700 policiais militares.

A estrutura dos três postos médicos volantes da Samu foi utilizada pelas equipes das Obras Sociais de Irmã Dulce (Osid) para atendimento ao público. As ambulâncias ficaram à disposição tanto para assistência básica, como para transporte de pacientes, garantindo mais tranqüilidade aos participantes do evento.

Além de instalar sanitários químicos e coletores de lixo, a Limpurb também atuou na cerimônia com serviço de varrição e catação no sábado e no domingo. A cada dia, haverá 40 agentes da limpeza trabalhando no local, sendo que um grupo de 20 atuou pela manhã e o restante, no turno da tarde.

O PAPA BENTO XVI E O ANJO BOM DA BAHIA.


Bento XVI fala No balcão na Praça de São Pedro, no Vaticano


Falando em português, o papa se referiu à beatificação no sábado em Lisboa da madre Maria Clara do Menino Jesus e à neste domingo na cidade de Salvador, no estado da Bahia, da Irmã Dulce. "Desejo também unir-me à alegria dos pastores e fiéis reunidos em Salvador, Brasil, para a beatificação da irmã Dulce, que deixou sua marca de caridade ao serviço destes últimos, fazendo com que todo o Brasil visse nela 'a mãe dos desamparados'."

"A fé em Jesus significa acompanhá-lo diariamente, nas ações singelas do dia (...) Só pouco a pouco ele constrói na grande história da humanidade 'sua' história", afirmou o pontífice aos cidadão a partir do balcão na Praça de São Pedro do Vaticano durante a reza, que substitui o Ângelus na Páscoa.

Jesus "se transforma em homem, mas de um modo no qual pôde ser ignorado por seus contemporâneos, pelas forças autorizadas da história. Padece e morre e, como ressuscitado, quer chegar à humanidade só através da fé dos seus, aos quais se manifesta", acrescentou.

Durante este quinto domingo de Páscoa, Bento 16 afirmou que crer em Deus e em Jesus não são dois fatos separados, mas um "único ato de fé". "O filho de Deus, com sua encarnação, morte e ressurreição, nos libertou da escravidão do pecado para dar-nos a liberdade dos filhos de Deus e fez-nos conhecer o rosto de Deus que é amor: Deus pode ser visto, é visível em Cristo", afirmou.

Beatificação

Um grande evento que deve contar com mais de 70 mil pessoas, ter apresentações artísticas e a presença da presidenta Dilma Rousseff (PT) marca neste domingo, em Salvador, a cerimônia de beatificação da religiosa baiana Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce (1914-1992), que passa a ser conhecida como Bem-Aventurada Dulce dos Pobres.

Nascida em 26 de maio de 1914 em Salvador e batizada como Maria Rita Lopes Pontes, a religiosa, da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, pode se transformar na primeira santa nascida no Brasil, o país com o maior número de católicos do mundo.

TESTEMUNHO ELOQUENTE.


Tinha muita gente na porta do hospital Santo Antônio, mas ainda assim ela me viu e me chamou. A partir desse momento nunca mais faltou nada na minha vida. Tudo o que sou hoje eu devo a Irmã Dulce"


Marlene Teles

VOCAÇÃO DA BEATA IRMÃ DULCE PARA O SERVIÇO DOS POBRES.



IRMÃ DULCE, O ANJO BOM DA BAHIA




GAETANO PASSARELLI



APRECIAÇÃO DE FREI HUGO FRAGOSO



O Livro de Gaetano Passarelli, “IRMÃ DULCE, O ANJHO BOM DA BAHIA”, é um livro de agradável leitura. É um livro “gostoso”, como se diria na linguagem popular. E por ser “gostoso”, a gente tem vontade de lê-lo de um só “trago”.

O autor soube aliar um estilo agradável a uma profusa documentação histórica. Se a obra não obedece aos cânones de uma tese acadêmica, nem por isso, deixa de ser uma obra científica.

Dizer que o estilo de Passarelli é “romanceado”, não é inteiramente exato, pois, “romance” na acepção costumeira, tem a conotação de “obra fantasiosa”. O que não se dá com o livro de Passarelli. O que na realidade ele expressa é um estilo “vivenciado”, ou seja, ele toma os documentos mortos e dispersos pelos vários arquivos, e lhes “dá vida”, fazendo-os mover-se na trama da narração, que até parece um “filme”, cujas cenas desfilassem sob os nossos olhos.

E através de toda essa seqüência de fatos, há um “fio condutor”, que acompanha a narração da vida de Ir. Dulce, desde os seus anos de infância e adolescência, até sua carta-testamento, quando ela pressentia a aproximação do seu fim. Esse fio condutor é uma VOCAÇÃO PARA ESTAR A SERVIÇO DOS POBRES. O amor aos pobres foi para Irmã Dulce, antes de tudo, uma herança familiar, sobretudo paterna. Foi nesse caldo cultural, de serviço aos pobres, que ela teve sua infância e adolescência, a imprimir todo um direcionamento à sua vida. E foi dentro dessa atmosfera de sensibilidade caritativa , que ela foi fazendo a descoberta da pobreza, em sua realidade chocante, como uma “navalha na carne”, a torturar seus irmãos e irmãs desvalidos.

Tal descoberta significou, ao mesmo tempo, um chamado de Deus, como o fora para Francisco de Assis a descoberta do Cristo excluído, no irmão leproso.

Coincidentemente, tanto a freqüência à igreja de S. Francisco, quanto sua aproximação com as Irmãs Franciscanas do Convento do Desterro, a levaram na direção do exemplo de Francisco de Assis. Uma vida toda a serviço dos pobres se consumou com sua entrada na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, cujo carisma fundamental, inspirado no Poverello de Assis, era a evangelização entre os mais necessitados.

Foi nessa caminhada vocacional que Irmã Dulce se encontrou com Frei Hildebrando Kruthaup, o qual desde menina ela adotara como seu confessor.

Era o encontro do “coração” (Ir. Dulce) com o “cérebro” (Fr.Hildebrando). Tal encontro, de um lado, significou uma complementação para Irmã Dulce; mas, por outro lado, não deixaria de suscitar um certo desencontro. Pois, Irmã Dulce sempre irá raciocinar com o “coração”, e não com o “cérebro” da lógica hildebrandiana.

Esse modo de ser de Irmã Dulce se tornou bem perceptível, na ocasião em que ela foi, como freira nova, destinada ao Colégio Santa Bernardete. A própria Madre Provincial assim se expressou sobre Irmã Dulce: “Acredito que ela tenha apenas um pensamento: sair do Colégio para andar, entre esses barracos e recolher as crianças, para fazer o bem e ajudar as pessoas, por caridade!..mas na escola é um desastre!” (p. 69). É que a escola era o espaço do “cérebro”, e os barracos, o espaço do “coração”.

A estrela de Irmã Dulce irá ofuscar, em grande parte, o brilho do gênio de Frei Hildebrando, embora tenha esse propiciado a Irmã Dulce um candelabro especial, sem o qual o brilho da estrela da Mãe dos Pobres, talvez não tivesse conseguido atingir o mesmo horizonte de publicidade. Mas no coração do nosso povo brasileiro, a linguagem do “coração” tem mais ressonância que a linguagem do “cérebro”.

É de justiça, porém, reconhecer não somente a herança de um grande coração, que foi Irmã Dulce, mas também o legado de Fr. Hildebrando, que não tinha outro “pensamento”, que a promoção do nosso povo pobre. Um dia, talvez, se faça na Bahia a justiça devida àquele, que lhe consagrou toda a sua existência...

Mas, voltemos ao contexto da união dos empreendimentos de Ir. Dulce e de Frei Hildebrando, ou seja, a fusão da União Operária com a obra social de Frei Hildebrando, que resultou no Círculo Operário da Bahia. Sustenta Passarelli que à Irmã Dulce o que “interessava era ter carta branca e dispor de meios para ajudar aqueles que dela necessitavam” (p. 93).

Não me parece ter sido expressa com exatidão a assertiva de que o “hibridismo” entre as obras do Anjo Bom da Bahia e do gênio empreendedor de Frei Hildebrando, tenha decorrido do fato de que Irmã Dulce tinha por objetivo a “ação”, e não o “comando”. Pois, ambos visavam a “ação”, mas cada qual a seu modo. E o “comando” era exercido em forma patriarcal, por Frei Hildebrando, e em forma “matriarcal” por Irmã Dulce; mais ainda, quando Frei Hildebrando se afastou do Círculo Operário. Essa forma matriarcal de comando era sentida, mediante uma presença, a impregnar de amor e respeitabilidade toda a obra que ela gerara de suas entranhas. Simplesmente não se concebia qualquer tentativa de delimitar o âmbito de sua ação maternal, dentro do Círculo Operário.

O autor afirma, à página 181(por ocasião do conflito entre o Círculo Operário e Frei Hildebrando), que “a sua atitude inclinada a ratificar o verdadeiro poder do assistente eclesiástico anulava também o seu carisma de fundador”. É de lembrar, porém, que estavam em conflito toda uma mentalidade clericalista de Igreja, onde o clérigo tinha praticamente o poder de decisão nas associações consideradas “eclesiásticas” – e uma nova mentalidade, suscitada sobretudo pela Ação Católica, dando aos leigos participação nas decisões sobre a realidade em que eles atuavam. Representantes da primeira mentalidade eram Frei Hildebrando e Frei Romano Voglmaier; representantes da segunda eram Frei Joaquim da Silva e Frei Gil de Almeida Bonfim, imbuídos que estavam no ideal da Juventude Operária Católica.

Com exatidão, porém, é afirmado, a seguir, que o raio de ação de Irmã Dulce era a “pobreza” e a “miséria”. De forma que ela, embora trabalhando no Círculo Operário da Bahia, nunca assimilou como sua ação específica “a organização operária” .

O horizonte mental de Irmã Dulce não alcançava as grandes estruturas sociais, pois, sua percepção estava voltada para os “efeitos”, que atingiam as pessoas concretas, esmagadas pela pobreza e miséria. Ela assim percebia os operários, como bem chegou a afirmar: “Os operários são como os pobres. Se, na realidade, não têm trabalho, não fazem parte da classe dos pobres?” (p. 88).

Lembro-me que na década de setenta, fazia eu um levantamento de opinião no meio universitário, sobre o problema das vocações religiosas. Uma das perguntas assim era formulada: ”Você acha que os frades e freiras têm compreensão pelo sofrimento do povo?” – A resposta foi quase unânime: “Sensibilidade, sim; compreensão, não!” E assim explicitavam eles: Os frades e freiras têm “sensibilidade” pelo sofrimento do povo, pois, por sua formação religiosa, não podem ver um doente, que logo não se apressem em colocar um esparadrapo sobre a sua ferida. Mas, falta-lhes a “compreensão” das causas profundas daquela ferida, causas essas com as quais tantas vezes eles próprios são coniventes.

Essas causas profundas da ferida social, que como “uma navalha na carne” atormentavam os pobres, não caíam no horizonte visual de Irmã Dulce.

Ao assumir o Círculo Operário, como espaço de sua “ação caritativa”, Irmã Dulce tinha o horizonte visual da Rerum Novarum, que era a visão do Círculo Operário de então. Dentro dessa visão, o problema social era visto sob o prisma de uma “família empresarial”, constituída de patrões e operários. A Igreja devia estimular a “harmonia” entre ambos, e jamais a “luta de classes”. Para os homens de Igreja “com a cabeça feita” pela Rerum Novarum , era inconcebível admitir-se que a “luta de classes” não era um perigo futuro a ser evitado, mas uma realidade histórica, estruturada e legalizada dentro do sistema econômico capitalista.

A visão social de Irmã Dulce não passou da Rerum Novarum. A Mater et Magistra, ou a Populorum Progressio, não tiveram ressonância no horizonte de sua percepção.

De forma que, assim poderíamos resumir a visão social de Irmã Dulce. VISÃO PERRSONALISTA é o prisma de todo o seu horizonte social. Ela bem significativamente afirmava: “Para mim, o pobre, o doente, aquele que sofre, o abandonado, é a imagem de Cristo” (p. 108). Seu olhar, sensível a todo irmão esmagado pela dor, não alcançava que essa imagem de Cristo estava empobrecida e abandonada, por causas bem concretas. Sua percepção não via que essa imagem de Deus era injustiçada e esmagada por estruturas sociais, que Puebla classificava de “estruturas pecaminosas”.

Essa visão personalista foi por ela bem expressa, nos começos de sua atividade apostólica: ”A experiência lhe mostrou que...fazia-se necessária uma ação minuciosa com cada um deles [trabalhadores], interessar-se pela sua vida, pela sua família, pelas suas necessidades...” (p. 80). Era essa linguagem do coração que se impunha primeiramente, pois, sem essa abordagem inicial, ”era totalmente inútil falar de fé ou de direitos dos trabalhadores ou da dignidade do homem”.

Quando criticada pela prática do assistencialismo, ela respondia dizendo: “Muitas pessoas afirmam que eu faço mal em proteger e defender os pobres...desamparados irmãos pobres!...só quem convive diariamente com eles pode avaliar o quanto sofrem, o quanto necessitam da palavra de Deus, de uma mão amiga que se estenda em direção às suas. Eles hoje estão morrendo, e não sabemos se estarão vivos num amanhã, quando conseguirmos aquilo que é, sem dúvida alguma, um sacrossanto objetivo” (p. 88-89). Era como se dissesse: Quem está com fome hoje, mata a fome com pão hoje! Quem está enfermo hoje, deve hoje ser tratado. Pois, projetos de transformação de estruturas, embora sendo “um sacrossanto objetivo”, devem ficar para amanhã...

Esse personalismo da visão social de Irmã Dulce, envolvia também mobilizar outras pessoas, pois, como escreve Passarelli, interpretando o pensamento de Irmã Dulce: “A seara era muito grande e implicava envolver outras pessoas” (p. 86). E no envolvimento dessas outras pessoas - sobretudo “pessoas de posses” - usava ela a linguagem do coração, e não a do cérebro. Para Irmã Dulce o “capitalista” não era encarado como detentor de estruturas econômicas, a esmagarem os pobres, mas como pessoas, que podem ser convencidas a ajudar os pobres. No mundo mental de Irmã Dulce não havia lugar, como dissemos atrás, para a “luta de classes”, nem mesmo para “a nobre luta”, de que falava o Papa João Paulo II, em alocução aqui no Brasil..

Essa linguagem de coração para coração é bem expressa por Passarelli, nestes termos: ”A flor [que costumava levar na sacola], o sorriso e as palavras, mas, principalmente, a ação de Dulce, fazia com que as pessoas e as instituições contribuíssem” (p. 197).

Nesse método personalista e nessa abordagem com o coração, “Dulce não reclamava de ninguém, todos são bons para ela” (p. 218). “Tudo que puder ajudar a obra, eu considero bom” (p. 232).

E finalmente esse seu modo de agir personalista encontra um coroamento final em sua carta-testamento, dirigida ao banqueiro Ângelo Calmon de Sá (15/02/1984), onde Irmã Dulce declara: ”Entrego às suas mãos generosas e ao seu bondoso coração os nossos doentes, os nossos pobres, as nossas crianças” (p. 234). Irmã Dulce entrega ao banqueiro, não simplesmente sua “obra”, como uma instituição impessoal, mas lhe confia as pessoas dos doentes, dos pobres e das crianças. E lhe faz um pedido, para que “procure na medida do possível manter nas suas mentes [das pessoas co-responsáveis] e despertar nos seus corações a chama do sacrifício, e da doação àqueles que nos estão confiados”! (p. 235).

Dentro desse visão personalista e desse raciocinar com o coração, Irmã Dulce deixa pouco ou nenhum espaço para a linguagem da “justiça”. Justiça lhe parece mais uma linguagem do “cérebro”, e não do coração, cujo idioma é o “amor”. Seu horizonte visual não alcançava a dimensão da Justiça, de que falava o Papa João Paulo II, dirigindo-se ao clero de Roma: ”A Justiça é a própria caridade em forma de exigência”.

De igual modo, não alcançava Irmã Dulce a dimensão de uma “ação política”, a não ser como política partidária, que ela rejeitava categoricamente. Ela não chegou a assimilar o sentido abrangente de “política”, como interesse pelo bem comum, que é um dever de todo cidadão. Ou melhor, para o seu raio de ação, o “interesse pelo bem comum” se expressava na ajuda aos pobres, e se os políticos ajudavam seus pobres, então estavam cuidando do “bem comum”. Mais além desse horizonte, não chegava o alcance de sua visão.

Diz Passarelli que Irmã Dulce atuava “fora de qualquer lógica partidária e política” (p.113). E explicita que ela “possuía uma mentalidade prática e muito pouco teórica, isenta de qualquer tendência político-partidária e ideológica. Seu objetivo era apenas um: ajudar os necessitados, imediatamente e de maneira mais eficaz” (p. 136). Aliás, diga-se de passagem, Irmã Dulce estava longe dos vários sentidos de “ideologia”, usados na linguagem dos bispos latino-americanos em Puebla.

E a própria Irmã Dulce culmina: ”Eu não entro na área política, não tenho tempo para me ocupar com as implicações partidárias. O meu partido é a pobreza” (p. 136). Ela, no entanto, chegou a perceber que sua candura e inocência poderiam ser instrumentalizadas por políticos interesseiros. Por isso, afirma resolutamente: “Eu só não gosto quando usam meu nome para orquestrar simpatias” (p. 136).

Uma instrumentalização de sua atividade caritativa se deu, por exemplo, quando procuraram usar seu nome como antítese á ação profética daqueles bispos, de que fala Passarelli, à página 196: “A Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros fez duras críticas aos métodos utilizados pelo regime e por uma parte conspícua da Igreja, e, dirigida pelo novo arcebispo de Olinda e Recife, D. Hélder Câmara, posicionou-se a favor dos protestos dos operários-estudantes, surgindo, assim, os primeiros padres e religiosos subversivos nas prisões”. Irmã Dulce não demonstra em toda documentação apresentada por Passarelli, nenhuma ressonância a tal instrumentalização.

Aliás, teria sido conveniente um aprofundamento da posição de Irmã Dulce, face a toda uma Igreja profética, que justamente por ser profética, era contestada pelos detentores do poder político e econômico, na longa noite de angústia da Ditadura Militar. Tudo indica que Irmã Dulce concentrava-se em seu “instrumento” pessoal, dentro da grande orquestra dos que se dedicavam ao problema social. Não era dominada pela preocupação de harmonizar seu instrumento (serviço caritativo) com outros instrumentos, como o da “justiça do Reino” . Aliás, todo o contexto parece indicar que ela não tinha uma visão muito clara do conjunto da orquestra.

De igual modo teria sido bom explicitar as palavras de Tereza de Calcutá, esquivando-se a um trabalho conjunto com Irmã Dulce: ”Eu desejo trabalhar para os pobres, mas sem responsabilidade financeira” (p. 229).

De tudo que dissemos, podemos sintetizar que Irmã Dulce em sua atividade caritativa, estava mergulhada num problema cuja dimensão ultrapassava seu horizonte de “consciência possível”. O problema social era um problema que angustiava toda a Igreja, em cujo âmbito Irmã Dulce desenvolvia sua atividade caritativa. Não podemos restringir-nos apenas ao horizonte visual de Irmã Dulce, na limitação de sua “consciência possível”. Daí, não podermos apresentá-la simplesmente como “o modelo”, em detrimento de toda uma Igreja profética.

Claro que na Igreja deve sempre haver lugar para um pluralismo pastoral e teológico. E eu acrescentaria, que até houve lugar para um pluralismo “magisterial”. Pluralismo, que deve ter sua leitura, dentro do princípio de Santo Agostinho, assumido pelo Vaticano II: “No essencial haja unidade; nas coisas opináveis, haja liberdade; em tudo haja caridade”. E expressão máxima desse pluralismo “magisterial” foi a beatificação simultânea de Pio IX, representante lídimo de um “fechamento” de Igreja, e de João XXIII, expressão eloqüente de “abertura” eclesiástica.

ESPETÁCULO NARROU A VIDA E A OBRA DA BEATA IRMÃ DULCE



Espetáculo narrou a vida e a obra da Beata Irmã Dulce



No embalo harmonioso da canção Alecrim Dourado, crianças em meio a um balé de flores surgem para revelar ao mundo o nascimento do Anjo Bom e seu jardim de realizações. A cena em destaque marca o início da peça Nasce uma Flor, espetáculo emocionou a multidão que estava no Parque de Exposições de Salvador, milhares de admiradores e fiéis da vida e obra de Irmã Dulce. Reunindo mais de 600 alunos do Centro Educacional Santo Antônio (CESA) – complexo de educação das Obras Sociais Irmã Dulce – com idades entre 6 e 15 anos, a apresentação contou, em forma de dança, música e teatro, passagens memoráveis de um dos mais belos exemplos de solidariedade e amor ao próximo, realizado na Bahia.

A cerimônia de beatificação mostrou como essa flor, que é Irmã Dulce, brotou no mundo. São episódios marcantes, como a acolhida de Irmã Dulce às crianças que viviam nas ruas. Teremos também a cena do galinheiro, que marcou o nascimento do Hospital Santo Antônio.

Dividida em quatro atos, a apresentação artística trouxe nos objetos cênicos outra atração a parte. “São peças gigantes que ajudarão a contar essa história, desde a boneca Celica, que pertencia à Irmã Dulce, até a réplica da favela de Alagados, retratando um de seus principais locais de atuação”.

Contando somente com quatro atores profissionais, além de dançarinos, figurinista, coreógrafo e assistentes de direção, o espetáculo contabilizou quase três meses de preparação, com ensaios de sete horas por dia, durante quatro dias por semana. Destaque ainda para as roupas que irão compor o figurino dos atores mirins, volume que deve chegar a 900 peças produzidas. Abrindo a programação festiva da cerimônia de beatificação, a apresentação artística teve início às 14 horas.

COMO SE DEU A CURA POR INTERCESSÃO DA IRMÃ DULCE.



Cláudia Cristiane Santos de Araújo tem 42 anos e mora na cidade de Malhador, no interior de Sergipe; e seu filho Gabriel de 10 anos, participante da história da cura de sua mãe.
A identidade da mulher que recebeu o milagre analisado e validado pelo Vaticano, enquanto peça fundamental do processo de beatificação de Irmã Dulce, foi divulgada na manhã desta sexta-feira, 13 de maio de 2011, durante uma coletiva de imprensa, na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em Salvador (BA).
Cláudia Cristiane Santos de Araújo, de 42 anos, mora na cidade de Malhador, no interior de Sergipe, e trabalha na prefeitura do município. Casada com o motorista de caminhão, Francisco Assis de Araújo, recebeu a graça no dia 10 de janeiro de 2001, enquanto apresentava um quadro de forte hemorragia não controlável ao dar à luz Gabriel, o segundo filho do casal.
A perda de sangue começou ainda no trabalho de parto e, num período de 18 horas, a parturiente passou por três cirurgias sem que o sangramento cessasse. Contudo, sem nenhuma intervenção médica, a hemorragia parou subitamente e a paciente se recuperou de forma inexplicável, do ponto de vista médico. Conforme relatos da época, o fim do sangramento ocorreu no mesmo instante em que um grupo de oração pedia a intercessão de Irmã Dulce em favor de Cláudia.
Na entrevista coletiva, o cirurgião e perito médico Sandro Cal Barral afirmou que a mulher foi examinada por mais de 10 médicos no Brasil e por seis especialistas da Itália e ninguém teve explicação científica para a recuperação da paciente.
Participaram da coletiva, o padre José Almi de Menezes, que comandou a corrente de oração pela cura da paciente; a diretora da Maternidade São José, local onde ocorreu o milagre, Irmã Augustinha Ferreira Santos; e o perito médico, Sandro Cal Barral.
A caminho da santidade
As gestões oficiais para a instalação do processo de beatificação e canonização de Irmã Dulce foram iniciadas em 1999, com a concessão do 'Nihil Obstat', documento que a Santa Sé disponibiliza decretando não existir impedimento para a introdução da causa.
Em 2000, foi realizada a abertura do Processo Canônico sobre a sua vida, virtudes e fama de santidade. A graça obtida pela intercessão de Irmã Dulce, em 2003, foi examinada primeiramente no Brasil e reconhecida pelos peritos médicos como um caso que não pôde ser explicado pelos meios da ciência. Os peritos e os cardeais da Congregação para as Causas dos Santos foram unânimes no reconhecimento deste milagre, constando que se tratava de um caso extraordinário de cura.
Em abril de 2009, foram reconhecidas suas virtudes heroicas e ela foi declarada Venerável pelo Vaticano. Em junho de 2010, seu corpo foi exumado e transferido junto às suas relíquias, últimos atos antes da beatificação – que aconteceu no dia 22 de maio, p.p., em Salvador (BA), no Parque de exposição.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

UMA MULTIDÃO DE FIÉIS NA BEATIFICAÇÃO DA IRMÃ DULCE



MAIS DE 70.0000 PESSOAS


NA CERIMÔNIA DE BEATIFICAÇÃO DA IRMÃ DULCE

Caravanas de todo o Brasil e do exterior participaram, ontem 22 de maio de 2011, da beatificação da Venerável Irmã Dulce.

De acordo com Osvaldo Gouveia, assessor de Memória e Cultura das Obras Sociais de Irmã Dulce, o reconhecimento das ações de Irmã Dulce é algo imensurável. “Tem gente que vem do Amapá porque tem devoção por Irmã Dulce. Acredito que não temos dimensão do quanto ela é querida neste Brasil imenso”, comentou.

Os portões do Parque de Exposições foram abertos às 12 horas, e às 14 horas, um espetáculo de música, dança e teatro abordando a trajetória de vida de Irmã Dulce antecede a solenidade. Cerca de 700 alunos do Centro Educacional Santo Antônio (CESA), núcleo de educação da OSID localizado no município de Simões Filho, fizeram a apresentação.

A Missa de Beatificação foi presidida pelo Cardeal e Arcebispo Emérito de Salvador Dom Geraldo Majella Agnelo.

Estiveram presente à missa de beatificação da Irmã Dulce, mais de 70.000 pessoas, mais de 30 Bispos e Arcebispos, aproximadamente 600 Padres, mais de cem Diáconos, Religiosos de várias Congregações e Religiosas de Va´rias congregações. Frei Mário Sérgio, OFM cap, representando todos os Franciscanos da Bahia, do Brasil e do mundo, cantou a oração de São Francisco: Fazei-me instrumento de tua paz.

A miraculada Maria Cláudia e seu filho estiveram presentes.

Também estiveram presentes a Presidente da República Dilma Russef, o Governador da Bahia Jaques Wagner, o Prefeito de Salvador, João Henrique, o Presidente da Câmara dos Deputados Estaduais, Nilo, o Senador José Sarney, O Governador e o ex Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e José Serra. Deputados Estaduais e Federais.

Foram disponibilizados vagas para ônibus, estacionamento pago para veículos de passeio, sanitários e segurança, com a presença de um efetivo de 700 policiais da Policia Militar da Bahia; Polícia Civil, Bombeiros; Posto Médico para o caso de alguém passar mal; O evento de beatificação da Irmã Dulce foi transmitido pela Rádio Excelsior, pela Televisão Canção Nova, ....

Jornalistas dos principais Jornais estiveram presentes.

Primeira Bem Aventurada da Bahia, Rogai por nós.

PAPA BENTO XVI ASSINA DECRETO DE BEATIFICAÇÃO DA IRMÃ DULCE


Papa Bento XVI assina decreto de beatificação de irmã Dulce.




Na manhã, de hoje, 10 de dezembro, o papa Bento XVI assinou o decreto que conclui o processo de beatificação de Irmã Dulce. A expectativa agora é pela cerimônia de beatificação que deve acontecer no primeiro semestre de 2011, em Salvador.

Irmã Dulce é a primeira baiana a tornar-se beata e agora está a um passo da canonização. O título de santa só poderá ser conferido após a comprovação de mais um milagre intercedido pela religiosa e reconhecido pelo Vaticano.

A causa da beatificação de Irmã Dulce foi iniciada em janeiro do ano 2000 pelo próprio Dom Geraldo Majella. Desde junho de 2001, o processo tramitava na Congregação das Causas dos Santos do Vaticano.

IRMÃ DULCE, A PRIMEIRA BEATA BAIANA.



IRMÃ DULCE,  PRIMEIRA  BEATA  BAIANA.

Irmã Dulce nasceu em Salvador, no dia 26 de maio de 1914. Seu nome de batismo é Maria Rita Lopes Pontes, filha de Augusto Lopes Pontes e Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes. Quando criança rezava muito e pedia sinais a Santo Antônio se deveria seguir a vida religiosa.

Em 1927, Ela se manifesta, pela primeira vez, a vontade de entrar para o convento. Desde os treze anos ajudando mendigos, enfermos e desvalidos. Até que aos 18 anos seu pai aceitou a idéia de sua filha tornar-se freira.

Em 1932, recebe o diploma de professora, pela Escola Normal da Bahia. Um ano mais tarde ingressa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição das Mães de Deus, do Convento de São Cristóvão, em Sergipe.

Em 15 de agosto de 1934, faz os votos de profissão de fé religiosa. Em homenagem a sua mãe recebe o nome de Irmã Dulce. Após tornar-se freira, é enviada novamente a Salvador, para trabalhar como enfermeira voluntária no Sanatório Espanhol por 3 meses.

Irmã Dulce abrigava as pessoas doentes em casas arrombadas, ela também transformou o galinheiro de um convento num albergue para pobres.

A Associação Obras Sociais Irmã Dulce foi fundada em 26 de maio de 1959, e instalada em 15 de agosto de 1959, data em que a Irmã Dulce recebeu o estatuto de fundação, de caráter filantrópico, e elaborado pelo seu pai.

Em 1980, Irmã Dulce tem o seu primeiro encontro com o Papa João Paulo II.

Juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup OFM, fundou o Círculo Operário da Bahia, que além de escola de ofícios, proporcionava atividades culturais e recreativas.

Conforme bibliografia dos historiadores no final deste documento, fala o historiador: George Evergton Sales Souza: “Como foi dito anteriormente, com o afastamento de Fr Hildebrando da assistência eclesiástica do COB, Irmã Dulce se projetou como a principal liderança da entidade, embora continuassem os assistentes eclesiásticos sendo franciscanos.”

Irmã Dulce quase não comia e não dormia. Os sacrifícios resultavam felicidade. Queria morrer junto aos pobres.

Em 11 de novembro de 1990, Irmã Dulce começou a apresentar problemas respiratórios, sendo internada no Hospital Português e depois transferida à UTI do Hospital Aliança e finalmente ao Hospital Santo Antônio. Em 20 de outubro de 1991, recebe no seu leito de enferma a visita do Papa João Paulo II. O Anjo Bom da Bahia morreu em seu quarto, aos setenta e sete anos, às 16:45 do dia 13 de março de 1992, ao lado de pessoas queridas por ela. Seu corpo foi sepultado no alto do Santo Cristo, na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia e depois transferido para a Capela do Hospital Santo Antônio, centro das Obras Assistenciais Irmã Dulce.

A 21 de janeiro de 2009, a Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano anunciou o voto favorável que reconhece Irmã Dulce como veneráve.

A 3 de abril de 2009, o papa Bento XVI aprovou o decreto de reconhecimento de suas virtudes heroicas.

No dia 9 de junho de 2010 o corpo de irmã Dulce foi desenterrado, exumado, velado e sepultado pela segunda vez, sendo este o último estágio do processo de beatificação.

No dia 27 de outubro de 2010, foi anunciada pelo cardeal arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Geraldo Majella Agnelo, em coletiva de imprensa realizada na sede das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) a beatificação, última etapa antes da canonização, da religiosa Irmã Dulce, tornando-a a primeira beata da Bahia. O anúncio foi sucedido pelo decreto em 10 de dezembro de 2010 e aconteceu após o reconhecimento de um milagre pela intercessão da religiosa na recuperação de uma mulher sergipana, que havia sido desenganada pelos médicos após sofrer uma hemorragia durante o parto.

Faleceu em 13 de março de 1992, aos 77 anos, no Convento Santo Antônio, depois de passar 16 meses internada. Desde então a sua obra passou a ser dirigida pela sua sobrinha, Maria Rita Lopes Pontes.
Bibliografia:
1) Frei Edgar Stanikowski OFM, FREI HILDEBRANDO KRUTHAUP, UM IDEAL HUMANISTA E SOCIAL, Bardel, Alemanha, 1996.

2) Frei Hugo Fragoso, OFM – historiador.

3) George Evergton Sales Souza – historiador.

4) CIRO BRIGHAM – historiador.

5) PASSARELI, Gaetano. Irmã Dulce: o anjo bom da Bahia. São Paulo: Paulinas, 2010.

6) Palestra de Frei Hildebrando. (Palestra 16/XI/1985, p. 424)

CENTRO DE ATENÇÃO INTEGRAL À CRIANÇA IRMÃ DULCE




CENTRO DE ATENÇÃO INTEGRAL À CRIANÇA IRMÃ DULCE.



O Centro de Atenção Integral à Criança (Caic) Irmã Dulce, de Lages, teve na manhã deste domingo, 22 de maio de 2011, uma missa em homenagem à beatificação de Irmã Dulce. A missa foi presidida pelo bispo Dom Irineu Andreazza, e contou com a presença de alunos, pais, professores e comunidade do bairro Guarujá.
A escolha de Irmã Dulce para denominação do Caic, ocorreu em reunião de lideranças comunitárias, pais de alunos e funcionários. Optaram por ela, em reconhecimento aos relevantes serviços que prestou às comunidades carentes do país.
A diretora do Caic, Elza Santana de Castro acredita que a beatificação de Irmã Dulce seja um ato relevante para o Brasil. Ela fala que a freira significa muito para a instituição em Lages, e é um exemplo a ser seguido, pela sua vida espirituosa e seus inesgotáveis cuidados para com o próximo:
— Ela é o anjo bom do Brasil.
O Caic comemorou, no dia 13 de maio, seu 17º aniversário, o que também foi lembrado na celebração. Um exemplo de vida voltada aos problemas sociais a celebração foi uma forma de refletir a esperança da comunidade e agradecer por dispor de um espaço social, onde crianças e adolescentes possam encontrar um caminho em direção ao futuro e à cidadania.
Dom Irineu fala que hoje é um dia imensamente especial para a Igreja Católica e sua comunidade, pois a beatificação de Irmã Dulce, que é o primeiro passo para que ela seja canonizada, vem fortalecer o compromisso em cuidar dos menos favorecidos e prestar auxílio a todos que necessitam.
vani.boza@diario.com.br

IRMÃ DULCE NA SOLENIDADE DE FREI HILDEBRANDO KRUTHAUP.

O Deputado Estadual Jorge Calmon quando pronunciava o seu discurso.



FREI HILDEBRANDO KRUTHAUP, ofm CIDADÃO BRASILEIRO

No dia 04 de maio de 1949, às 20 horas, no Cine Excelsior, quando transcorria o 25º aniversário de permanência no Brasil, o ilustre deputado estadual Dr. Jorge Calmon, orador oficial da solenidade de entrega do título Cidadão Brasileiro ao Frei Hildebrando Krutahup.

Queremos ressaltar aqui, entre outras palavras, o que o ilustre Deputado afirmou sobre a Irmã Dulce:

“.... Irmã Dulce... Esta religiosa, que a gratidão de todos os que sofrem está canonizando-a em vida, tem sido na obra social a que se consagrou Frei Hildebrando Kruthaup a colaboradora de todas as horas, aceitando, seus ombros débeis de mulher, o encargo de tremendas responsabilidades, como é o caso dessa dívida de milhões de cruzeiros, ainda agora contraída para a construção do Edifício Roma. Diríamos que, na sua figura, Santa Clara voltou ao mundo, para novamente amparar com a sua solidariedade a missão desse fiel discípulo de São Francisco.
Graças aos esforços conjugados de Frei Hildebrando Kruthaup e de Irmã Dulce, a União Operária de Itapagipe pôde dispor, para o seu funcionamento, de uma Sede, onde logo se instalaram Posto Médico, Farmácia, e Cooperativa de consumo.” ....


(Cfr. Livro: Lembranças da Homenagem da Bahia a Frei Hildebrando Kruthaup, OFM, discurso pronunciado pelo Deputado Estadual Dr. Jorge Calmon, pág. 49, Imprensa Vitória, Salvador, Bahia.).

OS HUMANISTAS: A Beata Irmã Dulce e o Frei Hildebrando Kruthaup


FREI HUMANISTA


FREI HILDEBRANDO KRUTHAUP



CIRO BRIGHAM



Na década de 1930, Frei Hildebrando e Irmã Dulce haviam dado as mãos numa obra assis¬tencialista voltada para os trabalhadores, a União Operária de São Francisco. Adminis¬trada pela Comunidade Franciscana, a enti¬dade – que logo passou a se chamar Circu¬lo Operário da Bahia – teve seu núcleo cen¬tral instalado em 1937 na Casa de Santo An¬tônio, sendo que em 1940 a sede foi trans¬ferida para o Edifício Pax, de propriedade do Convento de São Francisco.

"Irmã Dulce, sempre apegada aos serviços assistenciais, tinha no Circulo Operário da Bahia o espaço garantido para o atendimento aos seus po¬bres e miseráveis; frei Hildebrando, por sua vez, exercia a função de Assistente Eclesiástico, que, por ser o principal cargo da entida¬de, tornava-o, em última instância, responsável pela sua condução", atesta o historia¬dor George Evergton Sales Souza. Aconte¬ce que veio a guerra e, com ela, o afasta-mento do frei alemão.

Irmã Dulce "tocou o barco". 0 circulo cres¬ceu, se instalou na gigantesca sede do Lar¬go de Roma (inaugurada em 1948) e foi se livrando das subvenções franciscanas, ad-quirindo mais autonomia gerencial. Quando frei Hildebrando retornou do "exílio", encon¬trou um Circulo Operário da Bahia dividido. Os que pediam a sua volta não faziam parte da diretoria eleita, que estava ao lado de Irmã Dulce. A diretoria, por sua vez, havia modificado os estatutos originais no intuito de diminuir a influência dos franciscanos na vida administrativa da enti¬dade.

A figura do Assistente Eclesiástico era, para os circulistas, a de um interventor arbitrário que reduzira "as diretorias eleitas até 1958 a simples Órgãos executores de suas vontades (...) pondo sempre o veto quando contrariado em suas decisões". No dia 17 de fevereiro de 1962, a batalha pelo controle político do Circulo Operário da Bahia teve fim com a assinatura de um acordo entre a Comunidade Francisca¬na da Bahia e o Círculo Operário, que devolveu o Edifício Pax aos Frades e ficou como queria: "li¬vre" dos religiosos e ao lado de Irmã Dulce. A amizade entre Frei Hildebrando Kruthaup e Irmã Dulce, a quem ele chamava de "a mulher forte a serviço da verdade", ficou abalada até a reconciliação, em 1975.

Frei Hildebrando morreu no dia 11 de ja¬neiro de 1986.

O EMPREENDIMENTO

Hospital da Irmã Dulce hoje, no local onde era o galinheiro das Irmãs Franciscanas de sua Congregação.

O empreendimento foi criado por Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, a partir de um terreno onde funcionava um galinheiro, que virou o complexo que abriga deficientes físicos e mentais, idosos, crianças e doentes. Atualmente, é o maior centro de saúde gratuito do país.


Fruto de um trabalho persistente de Irmã Dulce, também chamada de Anjo Bom da Bahia, e seus "discípulos", a OSID tem a missão de manter os serviços de qualidade prestados à comunidade carente.

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Diariamente, cerca de cinco mil pessoas frequentam a instituição, que conta com mais de 200 voluntários.

“Eu sempre digo que a grande marca de Irmã Dulce é exatamente a caridade. Mas por trás disso aí há uma figura com tamanha obstinação, extremamente empreendedora, que rompeu com uma série de obstáculos, sempre em nome dos menos favorecidos”, relata o museólogo Osvaldo Gouveia, responsável pelo Memorial Irmã Dulce.

Tinha muita gente na porta do hospital, mas ainda assim ela me viu e me chamou. A partir desse momento nunca mais faltou nada na minha vida. Tudo o que sou hoje eu devo a Irmã Dulce"

Marlene Teles

O empreendedorismo de Irmã Dulce, citado por Gouveia, evidencia-se no complexo iniciado e estruturado pela freira baiana e seus colaboradores.

Compõem o espaço que beneficia milhares de baianos o Hospital Santo Antônio, Hospital da Criança, Centro Geriátrico Júlia Magalhães, Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências, Centro de Atendimento e Tratamento de Alcoolistas, Centro de Reabilitação de Anomalias Crânio Faciais, Ambulatório de Fisioterapia, Clínica da Mulher, Unidade de Coleta e Transfusão de Sangue, Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), Laboratório de Análises Clínicas e o Centro de Bio Imagem.

'Tenha fé, continuo presente'

A frase espalhada por todos os cantos das Obras Sociais Irmã Dulce, acompanhada de uma foto da freira baiana, confirma um dos maiores feitos da Santa dos Pobres: o atendimento de qualidade e a multiplicação dos pacientes e internos que são atendidos no complexo criado em 1949.

“Atendemos a população carente e fazemos exames de alta complexidade. A gente tem serviços que o SUS não remunera muito bem e precisamos de doações para ter o mínimo de equilíbrio para honrar com os compromissos no final do mês”, conta Maria Rita Pontes, sobrinha de Irmã Dulce e diretora da OSID desde 1992.



A pedido da tia, Maria Rita assumiu a direção das Obras Sociais e, para ela, a beatificação, que acontece neste domingo (22), vai trazer muitos benefícios para o local.

“A beatificação vai ser muito importante para todos nós, para toda equipe de profissionais, além de aumentar as doações que mantêm as obras”, contou.



O mercado de souvenires também foi beneficiado. De acordo com George Silva, atendente da loja de produtos relacionados à feira baiana, as vendas aumentaram mais de 200%. “Os produtos mais procurados são as camisas com a imagem de Irmã Dulce, pois as pessoas querem ir à missa de beatificação vestidas com ela”, conta o vendedor, que faz parte da OSID há 12 anos.

Relatos de afeto e amor

Iraci Lordelo, 76, é uma das primeiras voluntárias das Obras Sociais Irmã Dulce. O olhar alegre e as ações de caridade que pratica há mais de 50 anos cumprem a missão ensinada pelo Anjo Bom da Bahia: a de amar ao próximo. “Nunca vi um amor como o que Irmã Dulce tinha pelos indigentes. Porque a pessoa deve ter bastante amor e sem ele a gente não adquire nada na vida. Ela tinha uma caridade imensa”, emociona-se Iraci.

Assim como a voluntária, Edna dos Santos, 50, iniciou a trajetória nas Obras Sociais aos 22 anos e atualmente cuida de 12 moradores do Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências, CRPD. “Eu não seria essa pessoa que sou hoje se eu não tivesse conhecido Irmã Dulce. Eu vi o trabalho dela com os moradores e esses meninos eram tudo pra ela”, orgulha-se Edna. “Irmã Dulce que dava carinho para eles e nós estamos dando continuidade a esse amor que ela cultivou. Nós levamos eles para a horta, para passear e principalmente damos muito amor e atenção. É um trabalho muito bonito. Temos oficina de reciclagem, informática, aulas de capoeira. É um trabalho que Irmã Dulce sempre quis”, conta Ruth Santos Moreira, 55, que também atua no CRPD como cuidadora.

O relato da coordenadora de higienização Marlene Teles, 56, traduz o sentimento de muitas pessoas que foram assistidas por Irmã Dulce. Moradora de rua, certa vez, Marlene decidiu procurar o Anjo Bom da Bahia e diz que viu sua vida modificar para sempre. “Tinha muita gente na porta do hospital, mas ainda assim ela me viu e me chamou. A partir desse momento, nunca mais faltou nada na minha vida. Eu comecei a trabalhar como servente aos 17 anos e hoje sou encarregada da higienização. O que ela fez por nós em vida agora ela está recebendo com a beatificação. Tudo o que sou hoje eu devo a Irmã Dulce”, conclui Marlene.

Programação

Segundo a organização do evento, os portões serão abertos ao meio-dia de domingo. Programada para começar às 14h, a cerimônia de beatificação será aberta com a exibição do espetáculo Nasce uma Flor, apresentação que irá contar, em forma de dança, música e teatro, alguns momentos da trajetória de vida de Irmã Dulce.

(Assista ao vídeo e veja a preparação na véspera da cerimônia)

Reunindo mais de 500 alunos do Centro Educacional Santo Antônio (CESA) – complexo de educação das Obras Sociais Irmã Dulce – com idades entre 6 e 15 anos, a peça trará cenas como a acolhida da religiosa às crianças que viviam nas ruas da capital e a célebre ocupação do galinheiro – episódio que marcou o nascimento do Hospital Santo Antônio.

Após a apresentação artística, terá início às 17h a celebração canônica com uma missa seguida do roteiro litúrgico do Rito de Beatificação do Vaticano. A cerimônia, que contará com a participação de mais de 500 religiosos – entre padres, arcebispos, bispos, diáconos e seminaristas de todo o Brasil – será presidida pelo cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, o delegado papal na solenidade, representando o Papa Bento XVI.

COM FREI HILDEBRANDO KRUTHAUP, OFM, SE CONHECE A BEATA IRMÃ DULCE



F R E I H I L D E B R A N D O K R U T H A U P,

U M A V I D A A S E R V I Ç O D O S P O B R E S



FREI HUGO FRAGOSO





INTRODUCÇÃO: SEM FREI HILDEBRANDO NÃO SE CONHECE IR. DULCE



Ao falar-se sobre Frei Hildebrando Kruthaup, deve-se obrigatoriamente dizer algo sobre Ir. Dulce. Esses dois nomes foram inseparáveis, pois, foram eles o pai e a mãe das Obras Sociais, centralizadas sob o nome de Círculo Operário da Bahia. “Irmã Dulce”, conforme escreve Frei Edgar Stanikowski, testemunha de toda a evolução do Círculo Operário, “sempre lembrava que, em Itapagipe, ela tinha juntado UNS HOMENS para a Associação do Operário Católico. Quando frei Hildebrando fundou o Círculo Operário TODOS OS HOMENS entraram no Círculo Operário e foram praticamente os primeiros sócios” (p. 24-25).

Ir. Dulce, desde menina que se encontrou com frei Hildebrando, a quem escolhera como seu orientador e confessor. Foi o encontro do coração (Ir. Dulce) com o cérebro (Frei Hildebrando). Tal encontro, de um lado, significou uma complementação para Irmão Dulce, mas, por outro lado, não deixaria de suscitar um certo desencontro. Pois, Irmã Dulce sempre irá raciocinar com o coração, e não com o cérebro da lógica hildebrandiana.

Esse modo de ser Ir. Dulce se tornou perceptível, desde o início de sua vida religiosa, quando foi destinada ao magistério, no Colégio de Santa Bernardete. A própria Madre Provincial de então, assim se expressou sobre Ir. Dulce: “ Acredito que ela tenha apenas um pensamento: sair do Colégio para andar, entre esses barracos e recolher as crianças, para fazer o bem e ajudar as pessoas, por caridade! ...Mas na escola é um desastre!”. É que a escola era o espaço do cérebro, e os barracos, o espaço do coração.

A estrela de Ir. Dulce irá, com o tempo, ofuscar, em grande parte, o brilho do gênio de Frei Hildebrando, embora tenha esse propiciado a Ir. Dulce um candelabro especial, sem o qual o brilho da estrela da Mãe dos Pobres, talvez não tivesse conseguido atingir o mesmo horizonte de publicidade. Mas no coração do nosso povo brasileiro, a linguagem do coração tem mais ressonância, que a linguagem do cérebro.

É de justiça, porém, reconhecer não somente a herança de um grande coração, que foi Ir. Dulce, mas também o legado de Frei Hildebrando, que não tinha outro “pensamento”, que a promoção do nosso povo pobre. Um dia, talvez, se faça na Bahia a justiça devida àquele, que lhe consagrou toda a sua existência.

Essa união espiritual do coração com o cérebro, em vista de um objetivo comum - que era fazer o bem aos necessitados - prolongou-se até o ano de 1961, quando houve uma certa ruptura entre Frei Hildebrando e Ir. Dulce.

O Círculo Operário, ao desvincular-se dos Franciscanos (leia-se: de Frei Hildebrando), abalou os fundamentos de uma amizade de cerca de 30 anos, entre a mãe e o pai dessas Obras Sociais. O biógrafo e confidente de Frei Hildebrando, Frei Edgar Stanikowski, assim se expressa sobre essa ruptura entre o Círculo Operário e Frei Hildebrando: “Falando sobre o que o Frei Hildebrando sofreu, gostaria de acrescentar umas realidades inegáveis, que devem ter deixado chagas ou cicatrizes em sua alma, e sobre as quais não falava [injustiças, calúnias, acusações, processos]; poucas vezes tocou no assunto, e sempre como que forçado. Não adiantava conversas; era a questão das amizades que foram a pique” (Frei Edgar Stanikowski, FREI HILDEBRANDO KRUTHAUP, UM IDEAL HUMANISTA E SOCIAL, Aracaju, 1996, p. 37).

O mesmo Frei Edgar será testemunha confidencial da posterior reconciliação entre Ir. Dulce e Frei Hildebrando, nos idos de 1975. Escreve ele que passando, então, o Círculo Operário por uma difícil crise financeira, Ir. Dulce recorreu à organização MISEREOR, na Alemanha. Esta pediu o parecer, que seria decisivo, de Frei Hildebrando. “O Frei Hildebrando se abriu comigo; chegamos à conclusão de agir livres de qualquer sentimento de vingança, com superioridade, objetividade...com muita caridade. Avistei Irmã Dulce aproximar-se a passo lento. Ela mais magra, mais pálida, mais envelhecida. Afinal, os protagonistas, frente à frente, sorriso conciliante, cumprimentaram-se como sempre, abraçaram-se como sempre; ela beijando a mão dele; como sempre encostava a cabeça no ombro dele, enquanto ele pousava a mão esquerda sobre a cabeça dela... Não demorou muito a conversa da peticionária com o avaliador; assim sobrou mais tempo para o diálogo entre a dirigida e o diretor espiritual... Ao fim, despediram-se como sempre. Beijou ao mão dele, como sempre; finalizando: ‘Deus lhe abençoe, minha filha!’. No semblante da dirigida e do diretor, paz e serenidade” (Id., Ib., p. 43-44).



1– FREI HILDEBRANDO, O ALEMÃO QUE SE FEZ BRASILEIRO



Frei Hildebrando nasceu em Borringhausen, na diocese de Muenster, na Alemanha, a 4 de maio de 1902. Seu nome de batismo era Francisco. Seu pai se chamava Augusto Kruthaup e sua mãe Agnes Meyer.

Entrou na Ordem Franciscana, ou melhor, tomou o hábito seráfico, a 23 de abril de 1923, fazendo os votos temporários, no ano seguinte, a 18 de maio. Sua profissão perpétua foi a 18 de maio de 1927, e sua ordenação sacerdotal a 21 de maio de 1929.

Veio da Alemanha para o Brasil em 1924, aqui permanecendo a até a morte, ocorrida a 11 de janeiro de 1986. Frei Hildebrando se fez “brasileiro” não apenas por seus 62 anos de Brasil, mas sobretudo por um sentimento especial de amor a esta terra, que escolheu como sua segunda pátria.

Dizia-nos, na década de 60 em Salvador, Michel Moinet, missionário francês da Juventude Operária Católica (JOC):”Eu tenho dois pecados originais: o primeiro é o que todos os homens têm; o segundo é o pecado de ser francês”. E isso, porque ele viera ao Brasil anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, e não divulgar a cultura de seu país de origem. Mas o “francês” queria sempre tomar nele o lugar do “evangelizador”. E mesmo que ele, na busca de se abrasileirar, se virasse pelo avesso, não passaria de um francês virado pelo avesso.

A essa afirmação nós acrescentaríamos: Ser francês, ser alemão, ser japonês ou ser brasileiro é, antes de tudo, um dom de Deus. Expressa a inesgotável riqueza do Criador, que não se repete em nenhuma de suas obras. E essa multiplicidade de carismas Deus a diversificou, para melhor estabelecer a unidade no grande organismo da Humanidade.

O projeto de Deus não segue a lógica humana, que procura uniformizar para melhor estabelecer a unidade. É dessa lógica humana que nasce o pecado original de globalizar a identidade cultural do seu próprio povo, para melhor estabelecer a sua dominação sobre os outros povos.

Frei Hildebrando não pagou o tributo de sua germanidade, cedendo à tentação dominadora da identidade alemã sobre outras identidades, consideradas inferiores.

E lembre-se de que Frei Hildebrando viveu num momento histórico, em que o narcisismo da identidade germânica atingia o clímax do paroxismo, com a ideologia dominadora do nazi-germanismo.

Frei Hildebrando se fez brasileiro com os brasileiros, e dedicou toda a sua vida de missionário, no decurso de mais de 60 anos de Brasil, à busca de elevação da dignidade humana do povo brasileiro, ou mais precisamente, do povo baiano.

Daí, não ter sido um mero protocolo jurídico a concessão que lhe foi feita, a 4 de maio de 1949, de cidadão brasileiro. Referindo-se a essa concessão, proclamava então pelo microfone da Rádio Excélsior da Bahia, Fernando Pedreira, que “ O BEM COM O BEM SE PAGA”. E explicitava que a Terra-mãe da civilização brasileira, estava retribuindo, com um gesto de gratidão, a quem legou “à terra em que vive há 25 anos as melhores, as mais sadias e as mais perfeitas das realizações que são como monumentos a atestarem a colaboração particular pelo progresso de um Estado num dos mais destacados setores como o de assistência social”(Lembrança da Homenagem da Bahia a Frei Hildebrando Kruthaup, Salvador, 1949, p. 25).

Nessa mesma ocasião, o então Deputado estadual, Jorge Calmon, na qualidade de orador oficial para a entrega do título de cidadão brasileiro a Frei Hildebrando, afirmava: “Na concessão do seu título de naturalização, preferimos ver , menos o atendimento de um pedido, do que uma outorga, por parte do Brasil, dessa distinção, que é a maior que nos seria possível conferir. Porque, deveras, frei Hildebrando, com sua ação social, benemérita e infatigável, adquiriu o direito de ser, de plena justiça, cidadão deste país” (Lembrança da Homenagem, p. 54).

Esse reconhecimento oficial da Bahia a Frei Hildebrando, foi como um ato de reparação diante da pecha que lhe foi lançada em rosto, durante a Guerra, de ser ele um nazista a tramar contra o Brasil, a serviço da Alemanha.

Tal acusação foi o seu “cálice de amargura”, como declarava Jorge Calmon: “Certo dia quando uma turba de indivíduos enfurecidos, vítimas, como muitos outros, de um cruel equívoco, assaltou a sede do Círculo Operário, entrando a apedrejá-lo, o sacerdote, sem permitir que houvesse reação à violência, disse apenas: “Se assim é a vontade de Deus, deixem que quebrem tudo, porque não foi jamais para mim mesmo, e muito menos para minha glória que eu tenho feito essas obras...” (Lembrança da Homenagem, p. 51.

Aliás, Frei Hildebrando, pelo fato de ser alemão, teve de afastar-se do cargo de Assistente eclesiástico do Círculo Operário, por sugestão ou imposição do próprio Arcebispo Dom Augusto Álvaro da Silva.

O que então se dizia do alemão Frei Hildebrando Kruthaup, nos meios dominados pela xenofobia ou pela ideologia comunista, é documentado no livro de Jorge Amado, BAHIA DE TODOS OS SANTOS, publicado em 1945:

“Depois fizeram uma absoluta maioria alemã [no convento de S. Francisco] e nos dias de hoje à celebridade da Ação Quinta-Colunista dos referidos religiosos que, no dizer do povo, conspiravam na Igreja do Convento contra a segurança do Brasil chefiados por um de nome Hildebrando. Alguns desses frades foram processados mas o processo era quase uma pilhéria de tão mal dirigido e uma absolvição os deixou em liberdade. Mas não parou a murmuração popular que garante pela existência de estações clandestinas de rádio no interior do Convento, o que parece muito provável. A verdade é que os frades são nazistas e o tal Frei Hidelbrando mantém uma enorme catequese fascista entre os operários. Sua ação nesse sentido é a mais nefasta possível” (Jorge Amado: BAHIA DE TODOS OS SANTOS, Salvador, 1945. - Cf. ed. 1961, Salvador, p. 200).

É de notar que nas edições, a partir de 1976, Jorge Amado não mais publicou essa passagem.

A resposta, ou melhor, a atitude de Frei Hildebrando diante desse “cálice de amargura”, ele a sintetizará posteriormente, em uma das suas alocuções pela Rádio Excelsior, dirigidas “AOS QUE SOFREM”:

“É preciso saber caminhar por entre espinhos e rosas, por entre lágrimas e sorrisos... Sorrindo por entre os espinhos e chorando por entre rosas, isso também torna razoável a nossa vida. Chorando ou sorrindo – é preciso olhar para as rosas mais do que para os espinhos... Alguém que se deixou dominar pelo pessimismo, por certo, não sabe ver rosas entre os espinhos” (Frei Hildebrando Kruthaup: AOS QUE SOFREM, Salvador, 1999, p. 9-10).

Frei Hildebrando, o alemão que se fez brasileiro, soube unir no coração o amor às duas pátrias: à pátria que Deus lhe deu, e à pátria para a qual Deus o enviou. Nunca viu entre ambas uma antítese, mesmo durante a guerra entre o Brasil e a Alemanha. Pois, estavam elas abraçadas num mesmo amor, e esse amor procedia dum mesmo Deus.



FREI HILDEBRANDO, O FRADE QUE NÃO SE APROPRIOU DE SUA OBRA



Romeu Peréa, carmelita espanhol, referindo-se às Obras Sociais dos Franciscanos da Bahia, afirmava que “esse humanismo que brota do modo de viver e agir que os franciscanos adotam em todas as partes, ... é conhecido pelo nome derivado de seu inspirador – franciscanismo” (Romeu Peréa: Os Franciscanos contribuem para a Paz Social, Recife, 1963, p. 10).

Frei Hildebrando jamais excogitou rotular suas obras, de OBRAS SOCIAIS FREI HILDEBRANDO. Ele sempre se considerou um Franciscano, cuja atividade estava sob a obediência de seus Superiores hierárquicos, que o poderia, se assim lhes parecesse, manter ou retirar daquelas Obras Sociais. E as duas vezes, que os Superiores o transferiram para outro gênero de atividade ou para outra localidade, ele obedeceu fielmente, como uma criança.

O mesmo Romeu Peréa acrescentava: “Mas tanto um, como outro – frei Mariano como frei Hildebrando – formam, com as obras que dirigem, parte do organizado conjunto que, aprovado pelo Superior, se encarrega de levar a maior soma de beneficiados, com as denominadas obras franciscanas” (Ib., p. 17).

Frei Hildebrando, recebendo a ordenação sacerdotal, em 1929, deu início, pouco tempo depois, a toda uma atividade apostólica, marcada pela sua conotação social. E assim fazendo, inseria-se ele numa longa tradição franciscana. O “atendimento aos pobres”, sobretudo nas portarias dos conventos franciscanos, se tornara proverbial no imaginário popular.

Quando os franciscanos alemães, aqui chegaram, no ano de 1892, com o intuito de restaurar a vida franciscana na Bahia, e no Brasil, continuaram essa tradição assistencial. É de lembrar que a pobreza e miséria do nosso povo contrastavam chocantemente com o “padrão de vida” de seu país de origem.

Essa visão assistencialista dava um enfoque especial à pessoa do pobre, em sua miserabilidade humana, mas, sem uma análise profunda das causas de tal pobreza. Era “a pessoa humana que sofre, que passa fome e está necessitada”, que na análise de Romeu Peréa, falava à alma e ao coração dos Franciscanos, entre os quais Frei Hildebrando se inseria.

Foi dentro desse contexto que Frei Hildebrando desenvolveu um conjunto de Obras Sociais, de tal dimensão, que em 1963 afirmava o mencionado espanhol: “Se os Franciscanos tivessem um frei Hildebrando em cada cidade das mais importantes da sua vasta Província, a miséria material e moral de grandes parcelas humanas ficaria, ao menos, diminuída” (Ib., p. 34).

Todo esse arcabouço social, construído por Frei Hildebrando, foi de tal expressão, que o então Governador Octávio Mangabeira chegou a declarar a Frei Edgar Stanikowski: “Só vejo um homem capaz de administrar a Cidade de Salvador: Frei Hildebrando” (Frei Edgar, ib., p. 46).

Sua atividade social Frei Hildebrando a concebeu como uma missão, que o próprio Deus lhe confiara: “Quanto às minhas Obras, no início de minha vida religiosa, jamais me passaram pela cabeça, Jesus, no entanto me chamou a realizá-las para a sua Igreja – por exemplo: as OBRAS SOCIAIS FRANCISCANAS – A RÁDIO ESCÉLSIOR DA BAHIA – A CASA DE RETIRO SÃO FRANCISCO – O CARMELO DA BAHIA... todas essas realizações eu não atribuo à minha pequena frágil pessoa, mas ... unicamente e tão somente a Deus e à sua generosíssima proteção e bênção... E não quero, nem posso deixar de declarar, que sempre contei com os auxílios da Família Baiana” ( Aos que sofrem, Palestra 23/IV/1983, p. 362).

O Franciscano que vivia em Frei Hildebrando, jamais poderia apropriar-se de uma obra, que ele, por inspiração divina, construíra para a Igreja, sob a obediência de seus Superiores.

Mais de uma vez seu ideal de pobreza evangélica e sua obediência religiosa, foram submetidos à prova. A primeira vez foi em 1942, no período da Guerra, quando, diante das dificuldades surgidas contra os alemães, tornando impossível sua permanência à frente das Obras Sociais, ele tomou, como afirmara, a resolução: ”Deliberei retirar-me, temporariamente, de todo o movimento circulista”. Aliás, acrescenta ele, “de acordo com a opinião do Sr. Arcebispo - Primaz”.

Para quem conheceu a personalidade autoritária de Dom Augusto, sabe perfeitamente que ele não era homem de simplesmente transmitir “uma opinião”. O mínimo a que ele chegava, era o de “dar um conselho” com toda a sua autoridade episcopal.

A segunda vez que Frei Hildebrando teve de desligar-se de suas Obras Sociais, e de modo especial, do Circulo Operário da Bahia, foi no ano de 1955, quando os Superiores o enviaram de Salvador para o Recife. Seu Biógrafo Frei Edgar Stanikowski, escreve a respeito: ”Aceitou a transferência sem reclamar, e quando depois de um triênio, foi transferido do Recife para Fortaleza.... o Frei foi sem fazer cara feia”.

Frei Hildebrando, falando posteriormente dessa transferência, explica: “Eu não fui mandado para o Recife. Eu pedi minha transferência para Recife justamente para descansar pois estava esgotado em virtude exatamente dessas obras sociais, construção e direção de cinemas...” (AUDÁCIA DA FÉ, 97- 98). Mas acrescenta seu biógrafo, que os motivos alegados “não convencem”: Por exemplo, que Frei Hildebrando foi transferido por motivo de estafa, ou porque as obras sociais já estavam “maduras”, não precisando mais de sua “tutela” (Ib., p. 29).

Só depois de seis anos, é que os Superiores o transferiram de volta para Salvador, em vista de uma “ação salvadora” no Círculo Operário. Foi então que ele teve de passar pela prova de fogo, que na realidade foi seu grande “cálice de amargura”. Em 1961, o Círculo Operário proclamou sua “autonomia perante os Franciscanos”, e Frei Hildebrando teve de afastar-se definitivamente da obra, que fora “a menina de seus olhos”.

Seu biógrafo e confidente, Frei Edgar escreve que foi mais um cálice de amarguras para Frei Hildebrando essa atitude de ingratidão da parte do Círculo Operário , retribuindo-lhe com injustiças, calúnias, ameaças, acusações e processos.

A versão de frei Hildebrando sobre essa ruptura, é a seguinte: “

Quando ele retornou de Fortaleza para Salvador, “os diretores [do COB] haviam modificado os estatutos originais de uma maneira bárbara e absurda. A princípio, procurei contornar a situação. Mas os novos diretores do CÍRCULO OPERÁRIO tiveram a coragem de se julgarem os verdadeiros donos do EDIFÍCIO PAX, que lhes tinha sido emprestado gratuitamente para usarem os salões em suas reuniões... Resolvi então desligar-me do Círculo Operário” (Aos que sofrem, p. 118-119). Essa ruptura se deu no dia 17 de fevereiro de 1962.

Mas o ponto fundamental de todo o conflito era, segundo o mesmo Frei Hildebrando, que “a Diretoria quer tornar-se completamente autônoma na parte administrativa e vida social do Círculo. Mas essa mentalidade é contrária aos Estatutos, pois... pelos Estatutos tem o Assistente Eclesiástico o dever de vetar qualquer proposta contrária aos interesses dos Circulistas”.

Ora, o que justamente impugnava a nova Diretoria era esse papel absorvente do Assistente Eclesiástico, com tal direito de VETO, reduzindo os Diretores, como protestavam, a “simples órgãos executores de suas vontades”.

Mas a culminância do conflito chegou quando a nova Diretoria argumentou que “os Franciscanos negaram sistematicamente a aceitação dos pedidos de reforma dos Estatutos, por sentirem que os associados pugnavam principalmente pela supressão total do Art. 55... que determina, no caso de extinção do Círculo Operário, a transferência pura e simples dos bens do mesmo Círculo... para a Comunidade Franciscana” (Arquivo do Convento de S. Francisco, Salvador, V, 6,3).

Talvez tenha sido essa última acusação o mais insuportável “cálice de amargura” para Frei Hildebrando, que logo resolveu entregar tudo ao Círculo Operário, com exceção do Edifício Pax, que era propriedade do Convento de S. Francisco.

E arremata seu biógrafo, Frei Edgar, que “pelas mãos de Frei Hildebrando corria muito dinheiro; nunca sucumbiu à tentação, pelo contrário, continuou a vida franciscana sem alteração... O quarto simples como os outros quartos do convento” (Ib., p. 53). O ideal, que animou toda a sua vida, foi VIVER POBRE A SERVIÇO DOS POBRES. “Ele era um homem de fé inquebrantável, de confiança ilimitada, de caridade modelar e homem de vida interior“ (Ib., p. 54).

Dessa sua confiança ilimitada é um atestado o episódio seguinte.

Quando iniciava ele a construção da Casa de Retiro, um amigo lhe ofertou um bilhete inteiro da Loteria Federal do Natal. Na hipótese de ser sorteado aquele bilhete, estaria garantida a construção da Casa de Retiro. Frei Hildebrando rasgou o bilhete em pedaços e disse: “Se Deus nos quisesse ajudar tão comodamente, nem precisaria da loteria federal. Ele quer é nosso trabalho” (p. 57).

Desvinculando-se do Círculo Operário, Frei Hildebrando não pôs um ponto final na sua atividade em prol da pobreza abandonada. Partiu para outra forma de apostolado social nos bairros de Pernambués, Cosme de Farias, Engelho Velho de Brotas, como veremos adiante.





FREI HILDEBRANDO, O APÓSTOLO DOS OPERÁRIOS E DOS POBRES



Quando frei Hildebrando iniciou a sua atividade social, a Igreja caminhava sob o impulso da Quadragesimo Anno de Pio XI, como atualização da Rerum Novarum de Leão XIII. O Círculo Operário se movimentava dentro das bitolas dessas encíclicas pontifícias.

As Obras Sociais Franciscanas não irão acompanhar o progresso da Doutrina Social da Igreja, sob João XXIII, ou sob o impulso do Concílio Ecumênico, e sua inserção na América Latina, mediante Medellin e Puebla.

Houve, no entanto, ao lado do trabalho de Frei Hildebrando e dentro do Círculo Operário, um “fermento progressista”, na pessoa de Frei Gil de Almeida Bonfim. Pois, nos anos de 1948 e1949, Frei Gil, colaborador de Frei Hildebrando, imbuído do ideal do Pe. Cardijn, ou seja, do ideal da Ação Católica nos meio operários (JOC), questionou os “moldes assistenciais” do Círculo Operário. Para Frei Gil, o Círculo Operário, estando estruturado em categorias assistenciais, assumiu um método pastoral, que “tem sido uma medida de prudência do capitalismo e da burguesia ante o perigo para o seu poder. Tem sido uma medida apostólica do Catolicismo ante o perigo para as almas. E tem sido um expediente solerte do Estado, ante a responsabilidade tremenda que lhe pesa sobre os ombros”. E se perguntava Frei Gil: “Parta de onde partir, solucionará a Assistência Social o problema? Porá termo às lutas de classe? Conquistará a paz? Não temos receio em dizer não!” E acrescentava Frei Gil: “A Assistência Social não ataca os males sociais pela raiz; não se prende às suas causas, que são, antes de tudo, a desordem das estruturas, a injustiça radical do regime econômico, a ruptura dos quadros normais da vida, o desequilíbrio das pessoas e das coletividades, a mediocridade humana generalizada, o materialismo”. Ou como dizia o Pe. Lebret: “Se a assistência social vale mais que a inação e a indiferença, não resolve, entretanto, nada”.

E comentava Frei Gil: A Assistência Social “pode atenuar um pouco a luta de classes, contribui, todavia, para prolongá-la ainda mais”. E fustigava Frei Gil o tendão de Aquiles dos Círculos Operários: ”A maioria dos fundadores ou presidentes dessas obras sociais, católicas, ou não, para as poder criar ou manter, recorre, quer na fundação quer depois dela, aos homens do dinheiro... Estes, praticando aquele ação generosa na aparência, apresentam-se depois, como justificados por ela, como cumpridores da justiça, homens probos e caridosos. Continuam entretanto, a pagar ao operário o mesmo salário de fome”.

Em suma, o Círculo Operário era um movimento “para operários”, mas não “de operários”. E questionava ainda Frei Gil com a Encíclica papal Divini Redemptoris: “ Uma caridade que prive o operário do salário a que faz jus por direito definido, não é caridade... Nem o operário haverá de receber por esmola o que de justiça lhe pertence, nem se há de tentar dispensa dos grandes deveres da justiça com pequenas ofertas de misericórdia”.

E o que era mais grave, arrematava Frei Gil, é que os dirigentes de tais obras sociais, “contemplados pelos capitalistas com aqueles donativos para as mesmas, calam-se , silenciam diante das injustiças praticadas, para não incompatibilizarem com os seus benfeitores. Aquela esmola colocou-lhes como que mordaças nos lábios, para não falarem quando e como deviam fazer...”

Concluindo o seu raciocínio, sustentava Frei Gil que a Assistência Social será sempre uma necessidade para “os inválidos, os cegos, os trôpegos, os órfãos e todos enfim que não podem trabalhar. Mas não deve ser mantida como se fosse necessária também ao operário” (SANTO ANTÔNIO, Recife, 1949, nº 1m Ano VII, p., 296-300).

O horizonte de Frei Hildebrando Kruthaup não atingia, porém, o grau de consciência operária de Frei Gil de Almeida Bonfim. Mas devemos ter em conta que Frei Hildebrando pagou o tributo de sua temporalidade e de sua contextualidade franciscana. O horizonte de frei Hildebrando era um reflexo da mentalidade comum dos Franciscanos da Província de Santo Antônio daquela época. Embora reconhecendo suas limitações, não podemos negar a sua grandeza e o heroísmo de uma vida totalmente consagrada aos pobres e aos operários. Frei Gil foi, dentro do seu mundo franciscano, uma voz profética a clamar no deserto...

Aqui tem aplicação o que escrevia eu sobre a Mãe do Círculo Operário, Irmã Dulce, em comentário ao livro de Gaetano Passarelli: IRMÃ DULCE, O ANJO BOM DA BAHIA (Salvador, 2003 ); “O horizonte mental de Irmã Dulce [a partir do Círculo Operário], não alcançava as grandes estruturas sociais, pois, sua percepção estava voltada para os efeitos, que atingiam as pessoas concretas, esmagadas pela pobreza e miséria. Ela tinha sensibilidade pelo sofrimento do povo, mas não tinha compreensão das causas profundas daquela ferida. Essas causas profundas que afligiam os pobres como uma navalha na carne, não chegavam ao nível de percepção de Irmã Dulce.

Seu horizonte situava-se dentro da visão da Rerum Novarum e Quadragesimo Anno. O problema social era visto dentro do horizonte de uma “família-empresa”, constituída de patrões e operários. Era papel da Igreja estimular a harmonia entre patrões e operários, e jamais a luta de classes entre ambos. A visão social de Irmã Dulce era uma visão personalista. Seu olhar “sensível a todo irmão esmagado pela dor, não alcançava que essa imagem de Cristo estava empobrecida e abandonada, por causas bem concretas. Sua percepção não via que essa imagem de Deus era injustiçada e esmagada por estruturas sociais”, que posteriormente serão classificadas de estruturas pecaminosas.

E respondia Irmã Dulce aos que a criticavam pela prática do assistencialismo: “A experiência me mostrou que... fazia-se necessária uma ação minuciosa com cada um deles [trabalhadores], interessar-se pela sua vida, pela sua família, pelas suas necessidades... Muitas pessoas afirmam que eu faço mal em proteger e defender os pobres!... só quem vive diariamente com eles pode avaliar o quanto sofrem... Eles hoje estão morrendo, e não sabemos se estarão vivos num amanhã, quando conseguirmos aquilo que é, sem dúvida alguma, um sacrossanto objetivo”. Era como se dissesse, que “quem está com fome hoje, mata a fome com pão hoje. Quem está enfermo hoje, deve hoje ser tratado. Pois, projetos de transformação de estruturas, embora sendo um sacrossanto objetivo, não mata a fome nem cura as enfermidades hoje.

Em suma, dentro da visão personalista de Irmã Dulce, sua linguagem era a linguagem do coração. A linguagem da justiça era uma linguagem do cérebro, e não do coração, cujo idioma era o amor e a caridade.

Até por volta de 1955, quando frei Hildebrando caminhava harmonicamente com Irmã Dulce, buscando amenizar os problemas sociais dos pobres e dos trabalhadores, o Círculo Operário foi bafejado pela bondade caridosa de Irmã Dulce. Frei Hildebrando, de seu lado, falando mais a linguagem do cérebro, procurava dar uma “tônica promocional” à sua atividade social, como complementação à “tônica assistencial” da Mãe dos Pobres.

Quando Frei Hildebrando em 1961, retornou de Fortaleza para Salvador, já não poude continuar sua atividade circulista, como vimos atrás. E a partir de 1962, ele se encaminhou para uma atividade diretamente com o povo pobre dos bairros de Pernambués, Cosme de Farias e Engenho Velho de Brotas.

Frei Hildebrando numa palestra pela Rádio Excélsior, em 26 de abril de 1962, explicava essa sua nova atividade apostólica: ”Hoje, porém, desejava dizer uma palavrinha de referência ao novo apostolado, que os Padres franciscanos empreenderam agora em benefício de tanta gente que sofre e vive na maior aflição e agonia, que vive, por assim dizer, em estado desesperador... lá nos nossos bairros proletários, na periferia da cidade. É grande, é enorme, é quase indescritível a miséria ali reinante e, ao lado dessa miséria material, verificamos o completo abandono religioso... Queremos ir ao encontro dessa pobre gente, levando-lhe conforto material e espiritual...”(Aos que sofrem, p. 72).

E explicita por que enveredou por esse novo caminho apostólico. É que o Círculo Operário já estava obsoleto. O Governo, já tinha criado a Previdência Social, e os Sindicatos tinham seus centros de atendimento médico e ambulatórios (Estella Lopes e Olga Batalha: AUDÁCIA DA FÉ, p. 119).

O ano de 1962 fora o tempo, em que tivera início o Concílio Vaticano II, que encontraria sua encarnação na América Latina, nos Encontros de Medellin e Puebla. Houve todo um despertar para as causas profundas dessa miséria na América Latina, como decorrente de “estruturas pecaminosas”.

A julgar pela linguagem de Frei Hildebrando em suas alocuções radiofônicas, não houve em seu mundo mental espaço para essa visão estruturalista. Através de todas as sua alocuções radiofônicas, não figura o problema social, como problema a ser enfrentado sob o prisma da justiça. Se alguma vez surge essa palavra “justiça”, ela ocorre numa relação pessoal, mas nunca estrutural.

Uma única exceção se faz notar numa alocução póstuma, onde ele acentua que “a caridade não dispensa a justiça” e manifesta o desejo de “trabalhar pelo advento e o progresso da justiça social” (Aos que sofrem, p. 445). Tal modo de falar não parece ter atingido um nível de consciência, a inspirar seu projeto de ação.

Pouco tempo depois que Frei Hildebrando iniciava seu novo apostolado nos bairros, irrompeu a assim chamada “Revolução de 1964”. Frei Hildebrando a viu com simpatia, como demonstram suas palavras, em alocução de 31 de maio de 1969: “... me lembro de tantas e tantas crises, crises de extrema gravidade e de tantas perigosas e sombrias invectivas do comunismo ateu, culminando por arrastar nossa pátria estremecida à beira do abismo fatal, então digo sempre do fundo do coração: ‘Ai do Brasil, se naqueles momentos [de 1964] não tivesse contado com a proteção especial de sua excelsa e poderosíssima padroeira celeste” (Aos que sofrem, p. 90).

Se Frei Hildebrando teve suas limitações pessoais, no entanto, deixou ele para os vindouros o legado de uma vida inteiramente dedicada aos pobres e aos operários.



FREI HILDEBRANDO, O CONSTRUTOR QUE ESTAVA SEMPRE EM ORAÇÃO



“Se o Senhor não construir a cidade, em vão trabalham os seus construtores” (Sl. 127, 1), foi o lema constante da ação e da vida de oração de Frei Hildebrando.

Por ocasião dos 10 anos de sua morte, assim o caracterizava D. Tomás Murphy, que vários anos com ele convivera na Casa de Retiro: “A mais audaciosa força dada aos homens por Deus, é o dom da fé. Através deste dom, Frei Hildebrando levantou obras de incontestável valor, que têm servido a milhares de pessoas na difusão do bem” (Audácia da Fé, capa). Esta faceta da personalidade de Frei Hildebrando, ele a deixou transparecer, sobretudo, através de suas palestras pelo microfone da Rádio Excélsior, entre os anos 1946 e 1986.

Essas alocuções foram todas agrupadas para publicação com o titulo AOS QUE SOFREM. Visava ele atingir todas as pessoas, de qualquer classe social que fossem. A 1ª palestra, datada de março de 1946, engloba todo o programa de suas alocuções: “Esta palavra é para ti, alma sofredora, desolada, alquebrada pela dor. Soou a grande hora de tua vida. É nesta hora que deves revelar a tua fé inabalável “ (Aos que sofrem, p. 18).

Sua linguagem é, pois coloquial, de alma para alma. De alguém que tinha à luz da fé, experiência profunda da dor, sobretudo moral. E procurava então, por um fenômeno quase de osmose, compartilhar a dor de seus interlocutores e transmitir- lhes o consolo da fé.

O que é impressionante é que a tônica do sofrimento perpassa quase todos os 40 anos de suas alocuções. Frei Hildebrando se revela como o Místico da dor. Mas, nas últimas alocuções, sobretudo, aquelas que ele deixou preparadas antes de morrer, têm como grande tônica a alegria. É como se Frei Hildebrando tivesse passado por um longo processo de purificação, e pudesse enfim entoar jubiloso seu Aleluia pascal.

De sua Mística do sofrimento falam eloqüentemente suas alocuções. Cita ele um outro místico, Pascal: “O mal mais sensível, o maior sofrimento, é, em certo sentido, um Bem supremo, porque mais do que todos os fatores, pode contribuir para a verdadeira salvação do homem” (Palestra IV/1946, p. 19).

O Frei Hildebrando de 1946 ainda trazia na alma as cicatrizes das injustiças, calúnias, difamações, por que passara no tempo da última Grande Guerra. E como relembrando esse sofrimento, declarava ele: “Um dos mais pungentes sofrimentos que possam ferir o coração humano é a ingratidão” (Palestra XXXIV-1946, p. 48).

Mas, todo sofrimento é sempre uma escola de vida: “ O homem que nunca sofreu, é por assim dizer, um analfabeto da vida. O homem que pouco sofreu, freqüentou apenas a escola primária” (Palestra 19/VII/1969, p. 93).

Por isso, acrescenta Frei Hildebrando: “Uma coisa é possuir exímios dotes de intelecto e vasto arsenal de conhecimentos positivos em vários ramos do humano saber: - outra coisa é possuir esse inefável carisma de espírito que eleva o homem acima de tudo isto e cria em torno dele esse ambiente de placidez espiritual e paz inefável” (Palestra XIX- 1946, p. 36).

E essa dor adquiria uma dimensão superior, quando iluminada pela luz da fé cristã: “O bom cristão deve saber aceitar a dor do sofrimento! Descobrindo com um fino sentido humano a mão familiar do Pai ao oferecer o trago amargo de uma repreensão, de uma solidão espiritual, de uma paralisia, da morte de um amigo até para curar as nossas almas do egoísmo e dispô-las para o amor”! (Palestra 19/XII/1970, p. 140).

É de lembrar que Frei Hildebrando em 1963 sofrera uma congestão cerebral, ficando por espaço de vários meses paralítico. Conseguiu, porém, superar o mal, sem seqüelas.

À proporção que se aproximava o término de sua caminhada aqui na terra, Frei Hildebrando foi deixando em suas alocuções um legado especial, como herança de um grande coração. Esse legado envolve uma tríplice mensagem: Justiças social, perdão generoso e um sorriso de alegria.

Menos de dois meses antes de sua morte, Frei Hildebrando lançou como que um olhar retrospectivo, e apresentou “as diretrizes luminosas que deveria constituir a bússola de nossa vida. Ei-la:

SOMAR ALEGRIAS,

DIMINUIR TRISTEZAS,

MULTIPLICAR FELICIDADES,

DIVIDIR AMOR (Palestra 16/XI/1985, p. 424).

E duas semanas antes de partir, exclamava: “EU VOS ANUNCIO UMA GRANDE ALEGRIA... Mas – numa época assinalada por violência – crimes – injustiças – opressão dos mais fracos..,. existirá ainda ESSA ALEGRIA anunciada pelos anjos? EXISTE CERTAMENTE! Contudo, para ser descoberta, é preciso ajustarmos nossos olhos a uma visão que, partindo das coisas terrenas, se eleva a plano superior” (Palestra de 28/XII/1985, p. 426-427).

Foi essa a última palestra por ele proferida, antes de sua morte. Frei Hildebrando marchou para a morte com o perdão no coração, a alegria nos lábios e uma inquietação no olhar.

Nas alocuções que deixou sem proferir, confessava ele o que se passava no íntimo do seu coração: “Todos nós sabemos que uma das coisas mais difíceis para o homem é PERDOAR... é verdade também que os outros muitas vezes nos ofenderam; mas, sejamos sinceros: Nós não temos também ofendido aos outros? Nós não seremos perdoados SE NÃO na mesma medida, em que nós tivermos perdoado os outros” (Palestra 26/XII/1986, p. 445-446).

E porque Frei Hildebrando soube perdoar, não levando para a sepultura sentimentos de vingança ou ódio, podia marchar para a morte com um sorriso nos lábios.

Na palestra que ele marcara para proferir no dia 18 de janeiro, de 1986 - uma semana após sua morte - ele escrevia: “ Hoje, uma palavrinha sobre a ALEGRIA! Embora ela seja, em muitos casos um dom natural que se manifesta desde a infância... deve ser protegida e cultivada! Seus dois grandes inimigos são: O DESÂNIMO E O PESSIMISMO” (Aos que sofrem, p. 428-429). Essa alegria era uma exigência intrínseca do próprio anúncio da Boa Nova: “O cristão que quer iluminar os espíritos... e reanimar os corações – deve ser um RAIO de sol!... Deve ser um Semeador de Alegria... O mensageiro da Boa Nova não tem o direito de ser triste, pois seria uma contradição viva”, anunciar a alegre Notícia da Salvação com um semblante triste (Palestra 27/IX/1986, p. 453-454).

E impressionantes são as palavras que não foram proferidas em vida, mas que ficaram com um testamento: ”O dia mais feliz é aquele em que a gente se despede desta vida” . E arrematava com as palavras de Santo Agostinho: “O nosso coração está inquieto, enquanto não descansar em Deus” (Palestra 19/IV/1986, p. 434).

E na alma de Frei Hildebrando, que se despedia dessa vida, não poderia deixar de figurar a lembrança daquela pela qual teve sempre uma afeição especial: Maria, Mãe de Jesus: “NUNCA JAMAIS me esquecerei daquele noite de 31 de Maio, em que – logo após a minha chegada para o Brasil, há 61 anos – assisti, pela primeira vez, na Igreja de São Francisco, em Salvador... ao encerramento do MÊS DE MARIA... Eu lhes confesso que fiquei sumamente emocionado... tão emocionado que vieram lágrimas nos olhos” (Palestra de o31/V/1986, p. 439).

E com um sorriso nos lábios, ele atendeu ao chamado do Senhor: “Senhor, tu me olhaste nos olhos, e a sorrir pronunciaste meu nome”: Vem, servo bom e fiel! Vem para a glória que te está reservada, pois estive com fome, e me deste de comer: estive com sede, e me deste de beber, estive maltrapilho e me vestiste. Estive sem um tecto, e me abrigaste. Estive doente, prisioneiro e me visitaste!”

Mas, apesar desse transbordar de alegria, Frei Hildebrando marchou para os braços do Pai, com uma inquietação no olhar: “ANTES DE PENSAR EM SALVAR AS ALMAS DOS POBRES – É PRECISO PROPORCIONAR-LHES UMA VIDA QUE LHES PERMITA TOMAR CONSCIÊNCIA DE QUE TÊM ALMA”.... E enquanto persistam condições sociais que impeçam os homens de viver uma vida humana, o cristão não tem o direito de permanecer indiferente. A CARIDADE não dispensa a JUSTIÇA; pelo contrário: Deve estimular no coração do cristão um imenso desejo de trabalhar eficazmente para o advento e o progresso da justiça social” (Palestra 19-VII-1986, p. 445).







FREI HILDEBRANDO KRUTHAUP,

O “PAI” DO CÍRCULO OPERÁRIO DA BAHIA



George Evergton Sales Souza



DADOS BIOGRÁFICOS DE FREI HILDEBRANDO



Frei Hildebrando Kruthaup, filho de camponeses alemães, nasceu em Damme, no norte da Alemanha, em 1902 (1) .Com 15 anos de idade já se decidira pela vida religiosa, pretendendo entrar para a Ordem dos Franciscanos. Quando ingressou no seminário de Vlodrop, na Holanda, já havia decidido que logo após terminada a sua preparação eclesiástica viria para o Brasil, onde considerava haver um imenso campo para o trabalho missionário. Após alguns anos de estudo, encontrando resistência entre os superiores daquele seminário, desligou se de Vlodrop e retornou à sua cidade de origem. Pouco tempo depois, escrevia uma carta para a Província franciscana de Santo Antônio, solicitando sua aceitação como noviço. Tendo sido aceito, chegava ao Brasil exatamente na data em que completava 22 anos, no dia 4 de maio de 1924. Desembarcou em Recife, e pouco tempo depois veio para a Bahia.

Frei Hildebrando ordenou se em Salvador, no ano de 1929. 0 primeiro trabalho exercido por ele foi a redação do Orbe Seráfico, uma revista mensal que circulava entre os membros da ordem 3ª de S. Francisco. Tendo realizado um excelente trabalho à frente daquela revista, logo foi convidado - em 1935 - a dirigir a Tipografia S. Francisco, de Propriedade da Comunidade franciscana da Bahia. Sob a sua direção, a Tipografia cresceu e a sua principal publicação, o periódico Mensageiro da Fé, aumentou a tiragem para 40 mil exemplares.

Também nestes primeiros anos da década de 30, Frei Hildebrando Kruthaup foi Assistente Eclesiástico da Congregação Mariana de S. Luiz. Como diretor espiritual - assim eram chamados os assistentes eclesiásticos daquela casa foi o principal responsável pela construção do "Cine Excelsior", em 1935. Além do Excelsior, ele colaborou decisivamente na construção de mais dois cinemas, o "Cine Itapagipe" e o "Cine Pax", que foram frutos de seu trabalho junto ao COB (CÍRCULO OPERÁRIO DA BAHIA) (2).

Foi mais uma iniciativa do Frei Hildebrando a construção da casa de Santo Antônio, inaugurada em 1932. Nesta funcionavam várias organizações religiosas, ligadas ao laicato católico, inclusive, a primeira sede do núcleo central do COB, que só a partir de 1940 , com a construção do Edifício Pax, não teve mais que dividir o espaço de sua sede. Foi, sem dúvida, à frente COB que ele ganhou a admiração e o respeito de vários segmentos da sociedade baiana e a oposição de outros. Destacou se como o grande incentlvador do circulismo na Bahia. Um homem empreendedor que não via limites para a consecução de suas obras. Era simpatizado pelas elites baianas, que viam em sua ação, ¡unto ao operariado uma forma de amenizar as tensões existentes no seio daquela classe _ também por combater o comunismo, É claro. Entre os operários o conceito, a seu respeito não era consensual. De um, lado, nos segmentos mais organizados e combativos do movimento operário já sob influência dos militantes do PCB , era vista corno um clérigo a serviço das elites; de outro lado, nos 'setores menos combativos, nos quais havia uma maior penetração do circulismo, era conhecido como "o amigo dos operários” (3). Esta denominação poderia ser ampliada para “o amigo dos operários e miseráveis”, pois a sua prática assistencial não atingia somente o operariado, tinha como alvo, também, os miseráveis, ou para utilizar um termo da sociologia marxista, o lumpenproletariat soteropolitano.

Segundo Frei Hugo Fragoso, Frei Hildebrando trazia “consigo toda uma tradição franciscana de ação social' caracterizada pela "assistência aos pobres, sem uma análise mais profunda das causas dessa pobreza". Mas, "ao mesmo tempo, trazia ele uma mentalidade nova e criativa, no que se refere à promoção Humana”' (4). O espírito empreendedor de Frei Hildebrando não poderia ter encontrado campo mais fértil para seu trabalho que o Brasil das décadas de 20 a 40. Ele adequava se perfeitamente ao projeto da neocristandade que ia sendo desenvolvido no seio da Igreja Católica brasileira, incentivando a participação do laicato católico e buscando ampliar a influência da igreja no meio operário.

Tendo sido o grande líder do Circulismo baiano, Frei Hildebrando foi, dentre os franciscanos alemães residentes na Bahia, aquele que mais sofreu em decorrência da Segunda Guerra mundial, tendo de afastar-se do COB. As homenagens que lhe foram prestadas em 1949, parecem ter servido também como uma espécie de esclarecimento definitivo da questão. Como orador oficial da solenidade, o Deputado Estadual Jorge Calmon dizia, num tópico intitulado o Cálice da amargura: “Grandes, os dissabores sofridos por Frei Hildebrando. E ainda maiores as suas atribulações. [...] Certo dia tem alguns anos quando uma turba de indivíduos enfurecidos, vítimas, como muitos outros, de um cruel equivoco, assaltou a sede do Círculo Operário, entrando a apedrejá la, o sacerdote, sem permitir que houvesse reação à violência, disse apenas' ‘Se assim é a vontade de Delis, deixe que quebrem tudo... (5)

Enquanto estava afastado de suas atividades no COB, Frei Hildebrando teve tempo de empreender mais uma construção. Em março de 1 949 inaugurara a "Casa de Retiro São Francisco” no bairro de Brotas. Quando do seu retorno, em janeiro daquele ano á assistência eclesiástica do COB, empenhou-se, ao lado de Irmã Dulce, na conclusão das obras do Edifício Beneficência Operária. Contudo, já naquele momento começavam a aparecer as primeiras dissenções no interior do COB.

Após sua volta ao COB, tudo parece indicar que Frei Hildebrando foi perdendo o entusiasmes.. com o movimento. Embora não seja possível saber exatamente quais os motivos que o levaram a isto, o fato é que em 1955 ele se transferira para Fortaleza, demonstrando que já não mais se interessava pelo COB como há tempos atrás. Quando regressou a Salvador, em inícios da década de 1960, encontrara a entidade numa grave crise interna que resultaria na separação definitiva entre a Comunidade Franciscana e o COB.

Desligando se completamente do movimento circulista, Frei Hildebrando passou a dedicar se, sobretudo, à Casa de Retiro São Francisco e a um programa na Rádio Excelsior, chamado "A hora da Ave Maria". Naquela casa viveu até a sua morte, rio dia 12 de janeiro de 1986. 0 seu falecimento, surpreendentemente - embora já houvesse alguns anos que ele passara a ter uma atuação bem mais discreta , não mereceu mais do que uma pequena nota com seu nome grafado incorretamente no periódico local que tinha como redator chefe Jorge Calmon: "0 Frei Hildebrando Krutaup (sic) foi sepultado ontem, às 17 horas, no Cemitério de S. Francisco, na Baixa de Quintas. [ . . .]” (6).



A GESTAÇÃO DO COB

.

Em 1936, na Casa de Santo Antônio, foram realizadas várias reuniões visando a fundação do Circulo Operário da Bahia (COB). Delas participaram operários e algumas pessoas de destaque na sociedade baiana, a exemplo do Dr. Lopes Pontes, pai da conhecida freira baiana Irmã Dulce, e do Dr. Geraldo Mota, ilustre médico baiano (7). A liderança da iniciativa coube ao Frei Hildebrando Kruthaup, que, à época, como diretor espiritual da Congregação Mariana, vinha realizando um grande trabalho. Sob sua direção a Congregação Mariana construiu dois cinemas, o cine Itapagipe e o cine Elcelsior e conheceu, ao que parece, seu período de maior vitalidade. Justamente por ser Frei Hildebrando diretor espiritual da Congregação Mariana, é que a maior parte dos participantes daquelas reuniões eram membros dessa organização, inclusive o primeiro presidente do COB, o Sr. José Luiz Guimarães de Araújo Bastos, funcionário da Rede Ferroviária Leste Brasileiro.

Mas não foi somente pela iniciativa de Frei Hildebrando que o COB surgiu. A Irmã Dulce Lopes Pontes, naquela mesma época, "fazia um grande trabalho de evangelização na península de Itapagipe" (8). Ao longo deste trabalho foi surgindo a idéia de organizar, em Itapagipe, uma União Operária. Com este intuito já vinham sendo preparados por ela alguns operários ali residentes.

Quando da fundação da União Operária de São Francisco (UOSF), em 10 de janeiro de 1937, já estavam trabalhando juntos Frei Hildebrando e Irmã Dulce. Não demorou muito tempo para que a UOSF se transformasse no Circulo Operário da Bahia, numa iniciativa do Frei Hildebrando que, por possuir uma visão política bem maior que a de Irmã Dulce, sabia da importância de aderir ao movimento nacional dos círculos operários e das vantagens que poderiam advir dai. É confirmador da proeminência do Frei Hildebrando na organização do movimento, o fato de a escolha do Presidente da entidade ter recaído sobre o nome de José Bastos, que mantinha uma estreita relação com aquele sacerdote (9).

A fundação da UOSF teve bom espaço ria imprensa baiana. No jornal "A Tarde" foi publicada uma matéria com uma foto da sede da entidade situada à Rua Lelis Piedade, 109, em Itapagipe com o

título "Mais unia obra de beneficência da "Casa de Santo Antônio". Na matéria lê se:

“Como toda a Bahia sabe, a Irmã Dulce, da ordem das Concepcionistas da Penha, vinha já trabalhando, ha mais de um ano, entre a classe operária naquela zona. Crescendo o movimento, cogitou se de fundar uma grande organização operária, cuja direção foi confiada a Frei Hildebrando Kruthaup, diretor da CASA DE SANTO ANTONIO, que, por sua vez, obteve autorização para aplicar a renda da referida Casa em prol da construção e instalação de uma sede própria para os Operários (10).

A matéria ainda traz, uma descrição da sede, que tinha uma cooperativa, posto médico, farmácia, salão que servia para aulas noturnas, reuniões e lazer, além de uma biblioteca. Um outro jornal deu cobertura ainda maior ao evento. "0 Imparcial" publicou integralmente, nos dias 12 e 13 de janeiro de 1937, o longo discurso proferido por José Bastos por ocasião da fundação da UOSF (11).

0 bom espaço obtido junto à imprensa baiana era um reflexo, sobretudo, do prestígio social que tinham Irmã Dulce, por via do seu pai, o Dr. Lopes Pontes, e Frei Hi1debrarrdo, àquela altura uma pessoa já bastante conhecida na sociedade baiana por sua obra social.

A idéia de trazer o movimento circulista para Salvador antecedia a fundação da UOSF, que nasceu predestinada a transformar-se em Círculo Operário da Bahia. Não há vestígios documentais que permitam afirmar com exatidão quando ocorreu a transformação da entidade, mas convém lembrar que naquele mesmo ano de 1937, o Frei Hildebrando foi convidado pelo Pe. Leopoldo Brentano a participar do primeiro Congresso Operário Católico, realizado no Rio de Janeiro em novembro daquele ano. É provável, portanto, que, em sua volta do Rio de Janeiro, o Frei Hildebrando tenha apressado a transformação da UOSF, colocando em prática as resoluções do congresso que aprovou, dentre outras coisas, a "Fundação de Círculos Operários em todos os centros de trabalho, como organização básica para todas as realizações do programa católico no campo economico social., por parte do operariado". Desta forma, é possível que o COB tenha

tomado o lugar da UOSF a partir de inícios de 1938.

As mudanças mais significativas ocorridas na entidade ao passar a se denominar Círculo Operário da Bahia foram a confecção de um estatuto (12), de acordo com os princípios da CNOC, a adoção dos

métodos e símbolos do circulismo no Brasil, a filiação da entidade junto à CNOC e a cobrança de mensalidades no valor de $500 ao corpo de associados. A época da UOSF não havia cobrança de mensalidades. A entidade, segundo José Bastos, mantinha se através da renda de um cinema e dos auxílios de algumas pessoas da sociedade baiana, a exemplo do comendador Martins Catarino e do Sr. Ranulhpho Pimenta (13).

A entidade, ainda sob o nome de União Operária de São Francisco, segundo um periódico local., chegou a contar em suas fileiras com 3000 associados (14). Pode se supor que este número seja

exagerado, mas infelizmente não foram encontrados dados mais exatos sobre o número de associados.



O COB E A CRISE DA GUERRA AO “EIXO”



Encerrada a semana comemorativa do cinqüentenário da Rerum Novarum, o COB voltou ao seu trabalho habitual de assistência aos seus associados e pessoas carentes de Salvador, às quais a entidade também auxiliava. É evidente que continuava, com maiores resultados, o seu projeto de expansão, conquistando a cada dia um maior número de sócios. Durante o restante do ano de 1941 só mais um evento trouxe o COB às páginas dos jornais. Tratou se das comemorações em torno do quarto aniversário do Estado Novo. 0 círculo, naquela ocasião, realizou uma solenidade no Edifício Pax, "na qual tomaram parte representantes de vários sindicatos e sócios dos vários Núcleos" (15). A reunião foi presidida por Antônio Uchôa, delegado do trabalho e teve como oradores o Sr. José Bastos, o Sr. Agnelo Lima (presidente do COB) e, por último, o Frei Hildebrando Kruthaup (Assistente Eclesiástico da entidade). Todos os oradores se preocuparam em demonstrar os benefícios auferidos pelos trabalhadores brasileiros durante o governo de Getúlio Vargas.

Se o ano de 1941 reservou gratas surpresas para o COB, que alcançou rapidamente grande prestígio junto à sociedade baiana, o mesmo não pode ser dito de 1947.. Embora continuasse ao lado das autoridades governamentais e sem se desviar, sequer por. um momento, do projeto da Igreja católica brasileira, o movimento circulista baiano enfrentou sérias dificuldades junto à população de Salvador naquele ano.

Foi em 1942 que a Segunda Guerra Mundial começou a produzir efeitos mais diretos sobre o pais. Até antes daquela data o governo brasileiro era simpático às potências do Eixo, ainda que não tornasse pública essa simpatia. Mas, após os acontecimentos de Pearl Harbor (7 de dezembro de 1941) o governo norte americano exerceu uma forte pressão junto aos países americanos para que tomassem uma posição mais firme em relação ao conflito. A partir daquele momento as repercussões da guerra começaram a ser sentidas com maior intensidade (16), Entretanto, o acontecimento que causou efetiva mobilização dos soteropolitanos foi o afundamento de navios da marinha mercante brasileira a partir de fevereiro de 1942. Os incidentes provocaram grande revolta na população, e no dia 12 de março, houve a depredação da loja de charutos Danneman & cia., de propriedade de descendentes de alemães (17). A situação era tensa e nos meses de agosto e setembro, com o torpedeamento de mais cinco navios mercantes brasileiros, as manifestações contra o Eixo tornaram se mais freqüentes e mais fortes. 0 ódio contra as potências do Eixo acabou por transformar se em verdadeira xenofobia. Além da vigilância a todos os estabelecimentos comerciais cujos proprietários fossem alemães, italianos, japoneses, ou seus descendentes, os meios de comunicação incentivavam a população a se precaver contra todo e qualquer estrangeiro. Um periódico local chegou a publicar uma charge na qual o personagem dizia:

" Eu sou alemão, mas não sou nazista!" No rodapé do quadrinho lia se: "Não confie nele!” (18).

0 clima de xenofobia que se instaurou na Bahia naqueles tempos, terminou por criar dificuldades para o COB. Em fins de setembro a entidade "promoveu reuniões extraordinárias, a fim de expurgar de seus quadros todo aquele que tivesse algum vinculo com países do Eixo" (19), A preocupação do COB se explicava pela :sua ligação com a Comunidade Franciscana da Bahia, que era maioritariamente formada por clérigos alemães. Mesmo com o afastamento de Frei Hildebrando Kruthaup do cargo de assistente

eclesiástico do circulo operário, pelo fato de ser alemão seguindo uma instrução de Dom Augusto Álvaro da Silva, que exigiu o afastamento dos alemães da direção de instituições religiosas" (20). o COB não conseguiu desvencilhar se da desconfiança daqueles que o viam como uma entidade vinculada aos alemães (21). A situação do COB era muito difícil, tendo em vista que não podia se desligar inteiramente da Comunidade Franciscana,, sem com isto enfrentar sérias perdas. Os cinemas Pax e Santo Antônio, pertencentes à Comunidade Franciscana, eram responsáveis pela maior parte das rendas do COB, que recebia 70% do montante arrecadado por aquelas casas de projeção. Em caso de separação das instituições o

movimento circulista teria que abrir mão desta que era a sua principal fonte de renda (22).

Na verdade o fim das relações entre o COB e a Comunidade Franciscana poderia significar o fim daquela associação. Deste modo, os circulistas baianos preferiram não arriscar e mantiveram as ligações preexistentes com os franciscanos, embora, no período mais tenso da guerra, buscassem demonstrar ao público uma certa distância entre as instituições. Porém, isto não era fácil. Mesmo dando, com freqüência, demonstrações do seu apoio ao governo Vargas (23), de vez em quando as desconfianças com relação ao COB se faziam sentir nos jornais da cidade.

Em junho de 1942 época em que o Frei Hildebrando Kruthaup ainda continuava exercendo o cargo

de assistente eclesiástico da entidade , um jornal. de Salvador publicava uma matéria intitulada “Assim é propaganda nazista!” , com direito a uma foto bastante destacada do cartaz cinematográfico exibido na fachada do Cine Pax. Após fazer alguns comentários sobre a propaganda pró ou contra o nazismo, passa a fazer considerações sobre o cartaz do Cine Pax: "O cine Pax, que pertence a uma sociedade cujo diretor espiritual e figura de maior projeção um frade alemão, está anunciando a exibição de um filme anti nazista.

Até aí, nada de importância. Contudo, no lugar mais destacado da fachada da aludida casa de diversões, o maior dos cartazes contêm uma enorme, perfeitamente colorida, cruz "swássti.ca" !

Sobre a mesma, quase imperceptível, um ridículo V cor de cinza, desenhado em traços leves.

O fato tem causado justos reparos e o clichê que estampa esta notícia é bem uma demonstração dessa original maneira de fazer propaganda em favor da democracia. Nem se venha aludir á frase que ensina o cartaz em .apreço, porque o número de analfabetos ainda é bem grande na cidade, e todo eles, com exceção dos cegos, vêem e gravam ria retina a diferença de poderio entre a cruz e o V do cartaz do Pax” (24).

A matéria torna nítida a desconfiança com que passaram a ser tratados tanto o Frei Hildebrando Kruthaup quanto o COB. Mesmo exibindo um filme anti nazista, colaborando deste modo com a política pró aliados, não eram poupados das denúncias de supostas ligações com o nazismo. É bom lembrar que no mês de março daquele mesmo ano já havia ocorrido uma batida policial no Convento de São Francisco, quando foram apreendidos vários exemplares do periódico católico Mensageiro da Fé, que era publicado pela Comunidade Franciscana da Bahia e do qual havia sido Frei Hildebrando diretor. Segundo Consuelo Sampaio, a apreensão se deveu ao fato de que "os policiais viram nele um instrumento de propaganda nazista, porque um de seus artigos, “Guerra Moderna”, estampava fotos de tanques, lanchas, torpedeiros e aviões da Alemanha, com legendas que foram consideradas 'muito elogiosas’" (25). Embora nunca tivesse havido qualquer ligação entre a Comunidade Franciscana da Bahia e o nazismo, era difícil comprovar isto para uma população tomada por uma espécie de delírio xenófobo.

Sem poder prescindir do apoio da Comunidade Franciscana, mas também sem querer perder o espaço já conquistado na sociedade baiana o COB procurou todas as formas possíveis para não ter

manchado o seu prestígio. A entidade participou de todas as manifestações, organizadas pelas autoridades governamentais, contra o nazi fascismo. Em novembro de 1942. não deixou de prestar suas homenagens ao quinto aniversário do Estado Novo, realizando no Cine Pax uma grande reunião operária (26). Continuando com o seu trabalho de assistência social, participando de atividades pró aliados e sempre mantendo boas relações com o governo, o COB buscava evitar que lhe fosse imputada a imagem de "suspeito nazi fascista".

0 reconhecimento do COB corno uma instituição de utilidade pública, constitui, sem sombra de dúvida, uma amostra do prestígio conquistado junto à sociedade baiana. Embora a documentação consultada não permita afirmar que este reconhecimento contribuiu para a entidade angariar fundos para a construção de sua nova sede no Largo de Roma, não é um contra-senso sugerir que isto tenha efetivamente ocorrido, tendo em vista que o COB procurou dar ampla divulgação ao fato, inclusive através do papel timbrado da entidade que apresentava a mensagem "Reconhecido de Utilidade Pública em 22 de julho de 1946". Além disto, como entidade de utilidade pública tornava se menos difícil conseguir auxilio financeiro dos poderes públicos para o erguimento do "Edifício Beneficência Operária" - como era chamada a nova sede do COB.



O APOGEU DO COB



No ano de 1947 o COB voltou se principalmente para a construção do referido edifício (27). Embora contasse com o auxílio de muitos "benfeitores" (28), realizasse sorteios, arrecadasse dinheiro através dos cinemas de sua propriedade ou que administrava, e também obtivesse recursos oriundos das mensalidades pagas pelos associados, isto tudo não era o bastante para saldar a dívida contraída pelo Círculo enquanto construía a nova sede, uma obra grandiosa para os padrões da época.

Na verdade a construção da sede própria de COB só foi possível devido ao prestígio que a entidade havia conquistado em Salvador e, sobretudo, ao prestígio, empenho e persistência de Irmã Dulce Lopes Pontes. Irmã Dulce que, corno já foi dito, esteve à frente da organização da União Operária de São Francisco, havia perdido espaço no COB devido ao forte controle exercido pelo Frei Hildebrando Kruthaup. A possibilidade de que houvesse um certo descontentamento de Irmã Dulce, devido à centralização das decisões nas mãos de Frei Hildebrando, deve ser considerada. Pois, como fundadora daquela entidade era de se esperar que tivesse uma atuação mais destacada, o que não ocorreu durante a maior parte do período em que Frei. Hildebrando esteve como Assistente Eclesiástico do COB.

Existem algumas versões contraditórias sobre a relação entre Frei Hildebrando e Irmã Dulce. 0 Sr. Albertino Esperidião, circulista de primeira hora, dono da carteira de sócio número 06, diz que não havia divergência alguma entre os dois, que eram respectivamente "o pai e a mãe do COB"(29) caracterização que se observa desde os primeiros anos de existência da entidade. Todavia, é necessário atentar para os seguintes fatos. Primo, o Sr. Albertino tornou se circulista por intermédio da Congregação Mariana, da qual era membro e cujo Assistente Eclesiástico, à época, era também o Frei Hildebrando (30). Secundo, o Sr. Albertino sempre manteve boa relação com Irmã Dulce, sem, contudo, ficar indisposto com a Comunidade Franciscana, em particular com Frei Hildebrando o que explica a sua participação nas duas chapas que concorreram às eleições do COB em fins do ano de 1960, quando estava em processo a dissensão entre os franciscanos e o COB.

Relatos diversos daquele do Sr. Albertino Esperidião, podem ser encontrados tanto entre os partidários de Irmã Dulce como entre os partidários de Frei Hildebrando. Todos eles, entretanto, são passíveis de um sério questionamento. A título de ilustração, pode se resumir estes relatos (opiniões) divergentes do seguinte modo: para os "Dulcistas" as tensões tinham sua origem em Frei Hildebrando e nos demais franciscanos, ligados às atividades do COB, que procuravam diminuir a inf1uência de Irmã Dulce na

entidade; para os "Hildebrandistas" ou "franciscanistas" o problema era causado pelo Dr. Lopes Pontes, pai de Irmã Dulce, que queria vê la desempenhando uma função destacada à frente do COB. Como se

vê, são relatos ou se se quiser opiniões muito passionais e, embora possam ter algum fundo de verdade, é melhor buscar outro caminho para uma análise sobre as divergências entre as duas principais lideranças do COB.

A hipótese de que tenha havido, entre Irmã Dulce e Frei Hildebrando, ciúmes na condução do "filho querido" não deve ser descartada. Todavia, estes problemas sempre foram contornados sem maiores transtornos porque havia espaço suficiente para os dois. Irmã Dulce, sempre apegada aos serviços assistenciais, tinha no Circulo um espaço garantido para o atendimento aos seus pobres e miseráveis; Frei Hildebrando, por sua vez, exercia a função de Assistente Eclesiástico, que por ser o principal cargo da entidade tornava o, em última instância, responsável pela sua condução

Enfim, dificilmente seria possível saber com exatidão a natureza das tensões existentes, mas o certo é que elas existiram. Sinal claro disto é que justamente na época em que Frei Hildebrando se encontrava afastado da Assistência Eclesiástica do COB, Irmã Dulce cumpre uma função destacada à frente da entidade, sendo, talvez, a maior responsável pelo êxito na construção da nova sede no Largo de Roma, em 1948.



A VOLTA DE FREI HILDEBRANDO AO COB



Como foi dito anteriormente, com o afastamento de Fr Hildebrando da assistência eclesiástica do COB, Irmã Dulce se projetou como a principal liderança da entidade, embora continuassem os assistentes ec1esiásticos sendo franciscanos. O afastamento oficial de Frei Hildebrando do cargo de Assistente

Eclesiástico ocorreu em setembro de 1943, como parte de uma medida tomada pelo Arcebispo dia Bahia, Dom Augusto Álvaro da Silva, que exigiu a retirada de todos os alemães da direção de instituições religiosas. Naquele momento, passara o cargo ao Frei Joaquim da Silva. Após o final da guerra ele não reassumiu o cargo, que foi passado às mãos do Frei Edilberto Dinkelborg.

Os motivos que levaram a permanecer afastado da direção do COB do fim da guerra até 1949 não são muito claros. É certo que durante o período da guerra Frei Hildebrando sofreu várias acusações de ser nazi fascista. Estas, entretanto, não tinham qualquer fundamento, haja vista que nunca foi encontrado qualquer documento que provasse a sua ligação ou de qualquer membro da comunidade franciscana da Bahia com o nazi fascismo, nas várias batidas realizadas pela polícia no Convento de São Francisco

(31). É possível sugerir que parte significativa destas acusações tivesse origem nos militantes comunistas que aproveitavam o delírio xenófobo dos baianos para denegrir a imagem de Frei Hildebrando e do COB. Este à época tinha alguma influência no meio sindical, pois através da sua política de colaboração com o Ministério do Trabalho havia conseguido colocar militantes circulistas :na direção de alguns sindicatos. Deste modo, não é difícil chegar à conclusão¬ os comunistas tinham suas razões para levar adiante uma política de combate ao COB, utilizando para isto os instrumentos de que dispunham (32).

Um bom exemplo da atitude dos comunistas frente ao Frei Hildebrando está no livro de Jorge Amado, publicado pe1a primeira vez em 1945, Bahia de Todos os Santos, quando escreve sobre a Igreja de São Francisco. Após tecer alguns comentários sobre a beleza do conjunto arquitetónico, o autor trata, de alguns aspectos da Ordem dos Franciscanos na Bahia. Diz que anteriormente, quando começaram a vir para o Brasil, a maior parte dos frades era de nacionalidade espanhola, "Depois fizeram uma absoluta maioria alemã e nos dias de hoje à celebridade arquitetônica da Igreja e do Convento juntou se a triste celebridade da Ação Quinta Colunista dos referidos religiosos que, no dizer do povo, conspiravam na Igreja e no Convento contra a segurança do Brasil, chefiados por um de nome Hidelbrando (sic). Alguns desses frades foram processados mas o processo era quase uma pilhéria de tão mal dirigido e uma absolvição os deixou em liberdade. Mas não parou a murmuração popular que garante pela existência de estações clandestinas de rádio no interior

do Convento, o que parece muito provável. A verdade é que, os frades são nazistas e o tal. Frei Hidelbrando mantém uma enorme catequese fascista entre os operários. Sua ação nesse sentido é a mais nefasta possível."

(33).

Desta maneira, poder se ia sugerir que um dos motivos para Frei Hildebrando não retomar imediatamente às suas atividades à frente do COB, após o fim da guerra, foram as suspeitas levantadas contra a sua pessoa. Contudo, a falta de documentação sobre o assunto torna incerta qualquer tentativa de afirmar os motivos daquele afastamento.



FREI HILDEBRANDO RESPONDE À ACUSAÇÃO DE SER NAZISTA



“Meus caros circulistas:

Em virtude da atual situação do país, os Revmos. Padres não brasileiros da Comunidade Franciscana da Bahia, resolveram aliás de acordo com a opinião do Sr. Arcebispo Primaz, e no sentido de evitar possíveis explorações e deturpações absterem se, por enquanto, de todas as pregações, conferências, doutrinações,

reuniões, etc. De acordo com esta resolução nossa, deliberei a retirar me, temporariamente, d e todo movimento circulista, até que se normalize a situação e volte ao mundo a paz do senhor. Ficará em meu lugar o Rev.mo. Frei Joaquim da Silva que já vinha trabalhando conosco e a quem, espero, deis todo o vosso apoio e toda vossa dedicação, mormente nesta fase critica e difícil, a fim de que o circulo continue sempre forte, sempre firme, sempre vitorioso como o tem sido até agora. Que todos demonstrem, neste momento, o seu entusiasmo e o seu amor ao nosso movimento, á nossa causa que é ao mesmo tempo a causa da Igreja e da Pátria brasileira!

Seja bendita esta hora de sacrifícios, esta hora de renúncia, esta hora de provação! É agora, em dias como este., que vamos ver com quem podemos contar!. É na hora da luta que se conhece o valor do soldado! Bendita, pois, mil vezes bendita esta hora em que o circulo, em vez de perder, vai lucrar imensamente! os que não eram nossos, afastar se ão! E os que eram nossos, que são nossos, sê lo ão agora ainda muito mais! Portanto coragem! Entoai de novo, o nosso hino que é o hino dos trabalhadores brasileiros

Companheiros, cerremos fileira!

Olhos fitos rio ideal que reluz;

Empunhemos a nossa bandeira,

Cujas cores abraçam a Cruz!

Ardorosos na luta, queremos

O operário fazer respeitar;

Contra as forças do mal defendemos

Nosso Deus, nosso pão, nosso lar!

Nós trazemos um lema que encerra

Um programa de paz e de amor,

Pois, queremos que acabem na terra

A opressão, a injustiça, o terror.

Quanto a mim, todos fiquem tranqüilos! Quem eu sou e o que tenho sido e o que tenho feito para vós, vós o sabeis. E o que tenho colhido em recompensa, ninguém ignora! E Deus seja bendito! Nunca tenho procurado a minha pessoa, a minha glória ou gratidão dos homens ! Deus me é testemunha! Só tenho procurado a glória de Deus e da Santa Igreja e o bem material e espiritual das classes pobres, de acordo com o ideal e exemplo do nosso seráfico pai São Francisco. Se o Nosso Senhor era quem era, e fizera ao povo o que fez, e se, no entanto, este depois lhe fez o que fez que direi eu, pobre criatura humana! Sinto me, entretanto, imensamente feliz em poder sofrer alguma coisa semelhante ao sofrimento do meu Divino

Mestre e Chefe Supremo, e com ele rezo, de todo o coração: "Pai, perdoai lhes, pois, não sabem o que fazem". E agora, adeus, companheiros e amigos meus, adeus até quando Deus quiser! Que

Deus vos proteja! Que Deus esteja convosco, são as preces do vosso, sempre vosso, Frei Hildebrando Kruthaup.

Bahia, 13 de setembro de 1942.”



Em 1949, Frei Hildebrando reassume a assistência eclesiástica do COB, tomando parte na solenidade de inauguração de mais uma parte do Edifício Beneficência Operária. Em maio daquele mesmo ano, nó 25º aniversário de sua chegada ao Brasil, naturalizava se como cidadão brasileiro. Na ocasião fora lhe prestada uma grande homenagem, organizada por uma comissão composta por Simões Filho, José Wanderlei de Araújo Pinho, Jorge Calmon, Carlos Valadares, Antônio de Oliveira Brito, Miguel Calmon Du Pin e Almeida Sobrinho e Pânfilo de Carvalho, dentre outros. Além da ampla cobertura dada pelos periódicos locais, o evento contou com a transmissão direta da Rádio Excelsior da Bahia e da Rádio Sociedade da Bahia.



A SEPARAÇÃO ENTRE O COB E A COMUNIDADE FRANCISCANA



O incremento da ação assistencial do COB pode também ter sido um dos fatores que o levou à grave crise interna iniciada em meados de 1955, quando da transferência de Frei. Hildebrando Kruthaup para Fortaleza. Esta crise interna foi proporcionada sobretudo pela divergência de uma parte dos circulistas com a Comunidade Franciscana. Havia entre estes circulistas uma vontade de tornarem se autônomos, o que seria impossível caso o cargo de Assistente Eclesiástico continuasse a existir nos moldes presentes no Estatuto da entidade (34). As tensões, que se arrastaram durante toda a segunda metade da década de cinqüenta, atingiram seu ponto culminante no decorrer do ano de 1961.

No inicio daquele ano, em carta ao cardeal D. Augusto Álvaro da Silva, o Pe. Pancrácio Dutra, assistente eclesiástico auxiliar da CNOC, relatava o que estava acontecendo no COB. "Constatei a existência de uma incompatibilidade .inevitável entre os filhos de S. Francisco, e a nova Diretoria. [...] Este movimento [.referindo se ao COB] vinha passando por uma determinada crise. As Diretorias anteriores não tinham muita

expressão. Ultimamente conseguimos nomear uma nova diretoria, escolhemos os melhores valores circulistas para integrá la. 0 intento primordial desta nova diretoria seria soerguer o movimento um tanto em decadência... Esta nova diretoria estava armada dos melhores propósitos. Começaram a aparecer pequenas divergências entre as iniciativas novas da nova diretoria com os Assistentes Eclesiásticos" (35).

O Pe. Pancrácio Dutra concluiria a carta fazendo uma sugestão para resolver o problema. Propunha que o COB fosse dividido em dois núcleos, o de Roma e o do Centro (Pax.). Este último continuaria com os franciscanos e o núcleo de Roma teria um novo Assistente Eclesiástico não franciscano. Mas esta solução não foi aceita por nenhuma das partes.

Na verdade, as divergências às quais faz referência o Pe. Dutra não eram nem pequenas, nem haviam começado após a posse da nova diretoria, em 1961. Em dezembro de 1960, a chapa encabeçada por Alyrio de Lima Teles, que iria ser com larga margem de vantagem sobre a chapa concorrente a vencedora do pleito, distribuía um panfleto no qual pregava a "emancipação" do COB e a libertação do que considerava como "um jugo escravo", num visível descontentamento com os franciscanos

Frei Hildebrando retorna a Salvador em 1961 para reassumir a assistência eclesiástica, momento em que a crise na associação se agravava mais e mais. Porém, nada pôde fazer diante da vontade dos dirigentes circulistas de tornarem se autônomos em relação ao Assistente Eclesiástico. Expondo a situação que se desenrolava no COB, ele, após citar o panfleto de campanha da chapa vencedora, diz que "A Diretoria quer tornar se completamente autônoma na parte administrativa e vida social do Círculo. Mas essa mentalidade é contrária aos Estatutos, pois,... pelos Estatutos tem o Assistente Eclesiástico o dever de vetar qualquer proposta contrária aos interesses dos Circulistas" (36).

Portanto, o Frei Hildebrando percebia o problema, mas continuava a defender a idéia de que o Assistente Eclesiástico deveria permanecer exercendo as funções que sempre exerceu à frente da entidade. Contudo, ao tomar conhecimento de que os dirigentes circulistas afirmavam, no Memorial enviado a D. Augusto (37), que os franciscanos se negavam peremptoriamente a aceitar as solicitações de reforma dos Estatutos, por acreditarem que os associados desejavam suprimir o artigo 55 (38), a reação de Frei Hildebrando foi enérgica e imediata. Numa demonstração de total desinteresse pelos bens do COB, ele propôs que a Comunidade Franciscana se desvinculasse daquela entidade, sem exigir nada em troca dos 25 anos em que ela foi subvencionada pela Comunidade. Esta, afinal, viria a ser a solução para a crise. A partir de meados do ano de 1961, o COB passaria a contar com a assistência eclesiástica dos padres jesuítas e em fevereiro de 1962 aprovaria o novo Estatuto da associação, no qual desaparece o antigo artigo 55 e é revista a parte concernente às atribuições do Assistente Eclesiástico. Num panfleto para as eleições da nova diretoria, no biênio 1963 65, Alyrio Teles de Lima chamava a atenção dos circulistas para o que havia sido a luta, nos dois anos de sua administração, para "...livrar [o COB] da tutela de outros e dar... a independência e autoridade tão reclamada por todos nós" havia terminado a crise interna, mas este, já havia algum tempo, não era o único problema da entidade.



O CANTO DO CISNE



Em inícios dos anos 60 o COB era dono de um patrimônio invejável. Além do Edifício Beneficência Operária, era proprietário do Cinema São Caetano e do Cinema Plataforma, isto para ficar somente nos seus bens de maior valor. Há notícias de que o patrimônio total chegava, à época, a ultrapassar os duzentos

milhões de cruzeiros. (39) Todavia, este grande patrimônio em nada refletia a realidade do movimento. O circulismo passava por sérias dificuldades na Bahia. Embora seus dirigentes falassem em 25.000 associados, tudo parece indicar que este número não passava de uma grande fantasia. Infelizmente, trata se de uma tarefa praticamente impossível saber com exatidão o número de associados que tinha o COB. Mas com certeza ele era muito menor do que aquele divulgado.(40).

Quando Frei Hildebrando retirou se definitivamente do COB, em 1961, avaliava que "os Círculos Operários estavam então 'ultrapassados', pois, seus fins 'assistenciais' já não tinham atualidade, uma vez que os Institutos, as fábricas, os sindicatos oferecem também excelente assistência, e o Governo tem construído escolas nos bairros operários" (41).

Reflexo da decadência do COB, foi a eleição para a nova diretoria da entidade, realizada em dezembro de 1964. 0 número de eleitores sofreu uma redução de quase 34% em relação à eleição de 1962. (42). Mesmo assim, as esperanças dos dirigentes circulistas se mantiveram vivas até pelo menos o ano de 1967. Parece ser a partir deste momento que a direção do COB percebe a incapacidade tanto de exercer alguma influência no movimento sindical, como de atrair novos militantes para o circulismo.

É certo que o COB, após 1964, viu minguar dia a dia o seu quadro de associados, colocando o movimento em franca decadência. Mas isto não foi causado apenas pelo apoio que deu aos militares.

Como foi dito, outros elementos concorreram para sua decadência. Um destes fatores já havia sido apontado por Frei Hildebrando Kruthaup, em inícios da década de 60. As funções assistenciais do COB, tais como o ambulatório e a Caixa Beneficente, haviam perdido seu espaço para os Institutos de Previdência e para os sindicatos. Também iam perdendo espaço as escolas mantidas pela entidade, pois no caso dos cursos primários e ginasiais o número de escolas da rede estadual crescia, fazendo com que se tornassem menos procurados os estabelecimentos de ensino mantidos pelo COB. No caso dos cursos profissionalizantes , a exemplo da Escola de Datilografia do COB, a presença cada vez mais forte de instituições como o SESI, SENAI, SESC, tornava supérflua qualquer preocupação do COB em mantê los funcionando.

Sofrendo, dia a dia, a redução do quadro de associados e , com a perda de sentido das funções que habitualmente exercia, o COB, principalmente após 1967, entra num longo processo de agonia. Era como se nada mais houvesse a fazer que não fosse esperar a morte do moribundo. Com o passar dos anos o patrimônio da entidade foi sendo desfeito. Em 1996, o seu patrimônio reduzia se ao Edifício Beneficência Operária, rio Largo de Roma. Um grande prédio, com aparência de abandonado, que necessitava urgentemente de reformas. 0 número de associados era inferior a 30, boa parte dos quais aposentados .



O CÍRCULO OPERÁRIO E O CINEMA



Numa história do cinema ria Bahia não poderá faltar um capítulo sobre os cinemas católicos. Eles cumpriram um papel de relevante importância na difusão do cinema na Bahia. Várias salas de projeção cinematográfica eram de propriedade de associações católicas, isto até meados dos anos 60. Mas, não é exatamente sobre os cinemas católicos que se concentram as atenções deste pequeno texto. O que interessa aqui é na verdade a relação entre o COB e os cinemas, tendo em vista que esta entidade além de administrar um cinema também era proprietária de algumas salas de projeção.

O grande incentivador do cinema católico na Bahia foi o Frei Hildebrando Kruthaup. Foi ele, em 1935, que, como Assistente Eclesiástico da Congregação Mariana de São Luís, construiu o Cine Excelsior o primeiro cinema católico da Bahia. Note se que o interesse de Frei Hildebrando pelo cinema antecede à publicação da Encíclica Vigilanti Cura, do papa Pio XI, escrita em 1936.

Em 1942., no 4º Congresso Nacional dos Círculos Operários do Brasil, o Frei Hildebrando apresentou uma tese intitulada "Os Círculos Operários e o cinema" (43). A tese tem um valor muito grande

, porque não trata somente de questões mais imediatas, como a utilização do cinema como fonte de renda para os círculos, ela vai além quando apresenta um projeto para o desenvolvimento do cinema católico.

Para Frei. Hildebrando era necessário, em primeiro lugar, construir uma grande rede de cinemas católicos no país. Daí, então, seria, possível pensar na produção de filmes católicos. Mas, antes disto, propõe Frei Hildebrando, com 50 a 70 cinemas católicos espalhados pelas principais capitais do país, poder se ia, através do Secretariado de Cinema da ACB, importar se anualmente um bom número de filmes católicos produzidos em outros países. Deste modo, "pouco a pouco, o número de cinemas católicos iria aumentando e, então, já se poderia pensar em fundar uma companhia de produção católica” (44). Caso isto não fosse possível, o Secretariado da ACB poderia entrar em acordo com as companhias cinematográficas nacionais para que fossem produzidos filmes que observassem determinados itens da doutrina e moral católica em troca da sua exibição em todo o "circuito de cinemas católicos".

Em linhas gerais era este o projeto que Frei Hildebrando gostaria de ver realizado pela Igreja brasileira, através dos seus organismos competentes. Contudo, o que desperta maior interesse naquela tese não é o mega projeto de produção de filmes católicos. Na verdade, o mais importante para o presente estudo é perceber o discurso moralizante sobre o cinema, que está inserido na posição oficial da Igreja, definida pela Vigilanti Cura,

A Encíclica Vigilianti Cura tratava se de uma mensagem dirigida ao episcopado norte americano. Nela o papa Pio XI manifestava sua satisfação pelo trabalho que a Legião da Decência, instituída desde 1934, vinha realizando nos Estados Unidos. Para Pio XI a Legião da Decência era uma verdadeira cruzada em favor da moralidade pública; através, dela milhões de católicos comprometeram se a não assistir filmes que ofendessem a moral católica. O êxito daquela organização nos Estados Unidos, acabou por torná la em uma espécie de órgão censor extra oficial, com grande influência sobre a censura oficial. Apontando a como um modelo a ser seguido, Pio XI pretendia disseminar pelo mundo católico este tipo de organização que deveria estar vinculada à Ação Católica.

Todavia, antes mesmo da Encíclica de Pio XI, em vários países já haviam surgido as Legiões da Decência. Um bom exemplo disto é o caso do México. 0 historiador mexicano Guillermo Zermeño (45), assinala que a Legião Mexicana da Decência foi formada, provavelmente, por volta do ano de 1934, tendo um modelo bastante parecido com aquele dos Estados Unidos. Sua finalidade está bem expressa numa publicação de 1959, intitulada Apreciaciones. Catálogo de los espectáculos censurados por 1a Légion Mexicana de 1a Decencia. Aí diz se que a LMD representava vários grupos interessados em "velar sobre la pureza de nuestras costumbres y por lo tanto en aislar las enfermedades sociales como se aislan las epidemias que amagan la salud de nuestro cuerpo. . . " (46).

0 caso do Brasil é um pouco diferente. Aqui nunca houve uma Legião da Decência organizada nos moldes supracitados. Entretanto, havia o Secretariado de Cinema da ACB, que publicava regularmente urna lista classificando os filmes como "bons para toda família" , "para adultos", "desaconselháveis para todos" , proibidos e condenados pela moral cristã".

A tese de Frei. Hildebrando evidentemente contemplava esta discussão de cunho moralizante. Discordando daqueles que viam no cinema algo pernicioso e funesto para a moralidade e para a religião, defende que há muitos filmes bons, embora não sejam católicos. Nesse sentido, cita alguns filmes de muito sucesso que tiveram boa aceitação por parte da censura católica (47). Reconhecendo no cinema uma atividade de recreação e lazer das mais atrativas, Frei Hildebrando pugnava que enquanto não houvesse condições de importar ou produzir filmes católicos, era importante que os cinemas católicos passassem boas películas que não trouxessem prejuízos à moral católica. Para tanto era necessário que todo filme passasse por uma censura prévia.

No caso dos cinemas de propriedade ou administrados pelo COB, era o próprio Frei Hildebrando que fazia a .censura prévia. Infelizmente não há como saber exatamente que critérios eram utilizados por ele nesta censura; as dificuldades aqui são praticamente intransponíveis ainda assim, parece ser inevitável impedir que venha à mente a figura do padre, do filme "Cinema Paradiso", que assistia a todos os filmes antes que eles fossem exibidos e, com uma sineta na mão, indicava ao projecionista as cenas que deveriam ser cortadas. Impossível dizer quais cenas de Casablanca foram censuradas, ou mesmo quantos e quais beijos foram cortados das películas ao serem considerados ofensivos à moral e aos bons costumes por Frei Híldebrando, ao longo do tempo em que atuou como censor nos cinemas do COB. Estas e tantas outras são questões sem resposta. Eis o limite do historiador! Eis o limite da história! Mais uma vez a palavra é de Marrou: "A história faz se com documentos" (48).

Frei Hildebrando, todavia, não pensava O cinema apenas em termos ideológicos e moralistas. Procurava demonstrar em sua tese que os círculos operários teriam, também, muito a lucrar com a construção, aluguel ou compra de cinemas. Apoiado em sua experiência à frente do COB, Frei Hildebrando afirmava que era necessário haver, além das mensalidades, uma outra fonte segura e constante de renda para os círculos. E o cinema seria urna dessas fontes de renda. Dando como exemplo os cinemas da Bahia e de São Paulo, informa que estes “dão mensalmente, vários malhares de cruzeiros de renda líquida a ser aplicada para serviços de assistência social aos circulistas" (49). Mas não era somente como fonte de renda que o cinema era visto, havia outras motivações para a construção de salas de projeção pelos círculos operários. Nesse sentido, Frei Hildebrando lembra que todo círculo deve dispor de um grande local para suas reuniões e que o salão de projeção pode servir, ao mesmo tempo, como sala de reuniões. Lembra ainda que "as reuniões do Círculo devem ter uma parte recreativa; tendo cinema, facilmente pode se fazer, antes da sessão, a projeção de um filme interessante, o que muito atrai. O salão pode ter um palco e, aí., se farão os teatros circulistas" (50).

Assim, ao mesmo tempo que era , primordialmente, fonte de renda para a manutenção dos benefícios oferecidos pelo círculo, o cinema era também um local onde podiam ser realizadas reuniões; e outras atividades da entidade. Além disso, o cinema acabaria por tornar se em mais uma vantagem oferecida ao associado, pois este teria direito a pagar metade do preço do ingresso, corno no caso do Cine Pax, administrado pelo COB. Na década de 50 a entidade já era proprietária de três casas de projeção o Cine Roma, na sua nova sede, o Cine São Caetano e o Cine Plataforma. Por fim, é preciso assinalar que os cinemas se constituíram na principal fonte de renda regular do COB durante muitos anos.



OBSERVAÇÕES FINAIS



Ao acompanhar o desenvolvimento histórico do movimento circulista baiano é possível notar o quanto ele se assemelha ao circulismo nacional. Foi uma característica fundamental de todo o movimento o não acompanhamento das transformações sociais, econômicas e políticas pelas quais passou o país ao longo de três décadas. Mais do que isto, tudo converge no sentido de o circulismo não ter conseguido sequer acompanhar as mudanças ocorridas no seio da própria Igreja católica.

Pode se dizer que o movimento circulista foi fruto de um pensamento católico conservador e autoritário. A centralização, a hierarquização, além do poder extremamente forte do assistente eclesiástico rios círculos operários são elementos que assinalam a presença de um relevante conteúdo autoritário nestas organizações. Pautado sobre estas bases, o circulismo, tanto na Bahia quanto no Brasil, sofreu tanto com as transformações democráticas, por que passou o país após o fim do Estado Novo, quanto com o avanço do processo de industrialização. Quando teve de disputar espaço com outras correntes no movimento operário, mostrou a sua fragilidade ao não conseguir encampar propostas condizentes com a nova conjuntura política e com os novos anseios dos trabalhadores, perdendo paulatinamente a sua representatividade naquele meio. Se na Bahia o circulismo não ruiu à época do que chamo de intervalo democrático de 1945 a 1.964 , isto se deveu, sobretudo, a três elementos correlacionados: o prestígio social de Irmã Dulce e Frei Hildebrando Kruthaup, que contribuía para que as elites políticas locais seguissem investindo recursos no COB; as várias políticas assistenciais postas em prática pela entidade, que terminavam por atender a um significativo número de pessoas doentes ou famintas; as vantagens oferecidas ao seu quadro de associados, a exemplo da meia entrada nos seus cinemas, cursos de datilografia, corte e costura, prendas domésticas e de alfabetização para adultos, o Ginásio Circulista onde o ensino era gratuito para os filhos de associados , atendimento médico odontológico gratuito etc. Estes fatores foram, sem dúvida, de importância primordial para a sobrevivência do movimento, contudo não suprimiram as dificuldades do circulismo no convívio com um ambiente mais industrializado e democrático.

Talvez tenha sido também este caráter autoritário, responsável pela empolgação do circulismo baiano e nacional com o Golpe Militar de 64. Era como se uma espécie de nostalgia do Estado Novo pairasse no ar e se tornasse cada vez mais próximo o sonho da volta aos "bons tempos do Dr. Getülio", quando a ordem e o respeito às autoridades constituídas eram colocadas acima de quaisquer outros valores.

O COB, de sua fundação até meados dos anos 50, cumpriu um importante papel na sociedade baiana, o de atenuar os sofrimentos de uma parcela da população. Ainda que atendesse apenas a um contingente relativamente pequeno de pessoas, o COB, através do atendimento médico gratuito, da doação de remédios, alimentos e roupas, conquistou o respeito da população de Salvador e também o apoio dos políticos locais. Neste sentido, ele pode ser comparado àquilo que representava para os soteropolitanos as Obras Assistenciais de Irmã Dulce, no tempo em que ela ainda estava viva. Contudo, rio caso do COB, os objetivos não se restringiam às atividades assistenciais e beneficentes; ele era, ou ao menos tentava ser, também um movimento operário.

Enquanto movimento operário organizado a entidade não obteve um êxito muito grande. Durante o Estado Novo, praticamente assumiu como de resto todo o movimento circulista um caráter de Órgão Oficial do governo, obtendo, assim, vários cargos nas diretorias de diversos sindicatos. Mas, nunca conseguiu definir uma estratégia sindical clara. Com o fim da ditadura de Vargas tornava¬- se nítida a inexistência de um plano de ação concreto para conquistar espaços no seio do operariado. Vale ressaltar duas evidências bastante significativas a este respeito: a primeira é o fato de não ser encontrada qualquer discussão relativa a questões sindicais, até inícios dos anos 60, nos vários livros de atas que foram pesquisados; a segunda é que somente em 1962 foi. criado, no COB, um "Departamento de. assuntos

sindicais". Só com o Golpe militar de 1964 é que os circulistas voltaram a ocupar cargos nas diretorias de alguns sindicatos, sendo sempre nomeados como interventores.

Engendrado numa sociedade autoritária, conservadora e pouco industrializada, fruto de um pensamento que via na caridade cristã a solução para os males da humanidade, o circulismo encontra

seu limite nas transformações sociais, econômicas e políticas ocorridas em escala nacional e internacional no pós guerra. A perda de contato com a realidade, um fenômeno que se vai tornando mais e mais perceptível a partir de meados dos anos 50, termina por transformá lo em uma espécie de personagem de um drama quixotesco.

(EXTRATO DA TESE DE MESTRADO EM HISTÓRIA, apresentada na UFBA – 1996).





CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS



1. – Cf. Lembrança da Homenagem da Bahia a Frei Hildebrando Kruthaup OFM em 4 de maio de 1949 . Salvador, Imprensa Vitória, 1949, p. 55 . Trata se de um livro publicado pela Congregação .Mariana.,. de São Luiz, cuja ligação com o Frei Hildebrando já fora mencionada neste trabalho.

2. - A relação do Circulismo com o cinema será tratada em um tópico específico desta dissertação.

3. – Cf.. Lembrança da Homenagem da Bahia a Fr Hildebrando Kruthaup, O.F.M, op. cit., p. 99.

4. Frei Hugo Fragoso: O CÍRCULO OPERÁRIO DA BAHIA, IN Revista da Província Franciscana de Santo Antônio, Recife, 1986, p. 32.

5. - Id. Ibid. , p. 51. Embora Jorge Calmon não tornasse explicito em seu discurso qual seria “o cruel equívoco" , não é difícil perceber que estava se referindo a fatos ocorridos no tempo da guerra, quando Frei Hildebrando foi acusado de ser nazi fascista.

6. - Cf . Jornal A Tarde de 13 . 01 .1986 .

7. - Estas informações foram dadas pelo Sr. Albertino Esperidião Alves, único sócio fundador do COB ainda vivo. 0 depoimento dado pelo Sr. Albertino associado número 06 do COB teve grande importância para este trabalho por se tratar de um circulista de primeira hora, conhecendo, por isso, alguns aspectos importantes sobre a história do COB que, sem registros documentais, jamais poderiam ser abordados sem o seu depoimento.

8. - Cf. depoimento do Sr. Albertino Esperidião Alves.

9. – É importante destacar a proeminência do Frei Hildebrando frente ao movimento devido às divergências surgidas anos mais tarde entre ele e Irmã Dulce, que acabaram proporcionando uma divisão interna no COB entre duas facções: a dos que apoiavam o "pai" do Circulo e os que ficaram ao lado da "mãe". 0 que levou a uma discussão sobre qual dos dois haveria fundado o COB.

10. - Cf. Jornal "A Tarde", de 11/01/1937, p.2.

11. - Cf. "0 Imparcial", de 12 e 13/01/1937.

12. - Não foi. encontrado durante a pesquisa realizada nenhum

estatuto da UOSF.

13. - Cf. entrevista dada pelo Sr. José Bastos ao jornal carioca

"0 Globo", em 22/09/1937.

14. - Cf. "0 Imparcial", de 07/11/1937.

15. - Cf. jornal "A Tarde", de 11./11 /1941.

16. - Cf. Consuelo N. Sampaio, A Bahia na II Guerra Mundial, in Revista da Academia de Letras da Bahia, mar. 1996, nº 42, p. 136.

17. - Cf. Id. Ibid., p. 136.

18. - Cf. o jornal "0 Estado da Bania", de 23/09/1942

19. - Cf. Consuelo N. Sampaio, art. cit., p. 146.

20. - Ver Frei Hugo Fragoso, 0 Circulo Operário da Bahia, Revista da Província Franciscana cie Santo Antônio, Recife, 1986, p. 35.

21. - Com o afastamento de Frei Hildebrando Kruthaup do cargo de assistente eclesiástico do COB, assumiu a função o, também franciscano, Frei Joaquim da Silva.

22. - Ver Id. Ibid., p. 35

23. - O jornal "0 Imparcial", de 19/04/1942, por exemplo, publicava uma matéria sobre as homenagens da Bahia ao aniversário de Getúlio Vargas. Nela continha um sub tópico informando sobre a programação

do COB, que iria organizar uma sessão solene, presidida pelo delegado regional do trabalho, para comemorar o "natalício" do presidente. No mesmo jornal, em sua edição imediatamente posterior aos eventos que marcaram aquelas comemorações, diz se que a sessão solene realizada pelo COB contou com a presença de cerca de 2..500 associados dos vários núcleos daquela entidade.

24. - Cf. "0 Imparcial", de 30/06/1942.

25. - Cf. Consuelo N. Sampaio, art. cit., p. 146.

26.- Cf. jornal "0 Estado da Bahia", de 08/11/1942.

27. - Por uma questão ligada à preocupação com o estilo do texto optei por dar algumas necessárias explicações sobre este tópico em nota de pé de página, permitindo, deste modo, que a narrativa

construída neste tópico não sofra maiores quebras com esclarecimentos sobre o conteúdo do texto. No presente tópico o objetivo não é apenas o de descrever e analisar o apogeu do COB. A narrativa abrange também algumas questões sobre as divergências internas do movimento, os questionamentos internos sobre a prática circulista, além de outros fatos que considero importantes para o

entendimento do momento histórico vivido peto COB, no intervalo temporal que se estende de 1947 a inícios da década de 1960.

28. - Eram assim chamados todos os comerciantes, empresários, profissionais liberais etc., que contribuíam financeiramente com as obras do COB.

29. - Cf. depoimento do Sr. Albertino Esperidião Alves.

30. - Deve se salientar que a Congregação Mariana sempre teve uma ligação muito forte com a Comunidade Franciscana da Bahia. Ainda hoje a missa semanal da Congregação Mariana continua a ser realizada na Igreja de São Francisco.

31. - É importante relembrar que estas batidas policiais no Convento de São Francisco tinham por única e exclusiva motivação o fato de a maior parte dos clérigos, ali residentes, serem alemães.

32. Um dos instrumentos utilizados para combater o COB foi, sem dúvida, a imprensa. Como relata João Falcão, em seu livro 0 Partido Comunista que eu conheci, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1988, às páginas 227 e 228, o Partido Comunista tinha jornalistas trabalhando nos maiores jornais de Salvador, "como Giovani Guimarães, Ariston Andrade e Heron de Alencar n'A Tarde; Rui Facó, Almir Matos e Jacob Gorender, no Diário de Notícias; Mário Alves e João Batista de Lima e Silva, no Estado da Bahia; João Martins Luz, no Diário da Bahia; Jorge Amado e Alberto Vita, em “O Imparcial". É' muito provável que as insinuações, vez por outra publicadas na imprensa, de ser Frei Hildebrando um nazi fascista, tivessem por trás de si um jornalista ligado ao PC.

33. - Cf . Jorge Amado, Bahia de Todos os Santos, 9ª ed. , São Paulo, Martins Editora, 1961, p. 200, os grifos são meus. Nas edições mais recentes desta obra, que sofreu uma ampla revisão em . 1976, o aludido parágrafo foi suprimido pelo autor.

34. - Dispenso maior atenção à análise do papel do Assistente Eclesiástico no COB nos tópicos sobre a organização interna da entidade.

35. - Cf. ACSFS, V. 6. 3. Citado por Frei Hugo Fragoso, art. cit., p. 38.

36. - Cf. Exposição da situação do Círculo operário da Bahia, por Frei Hildebrando, in ACSFS, V, 6.3. 0 trecho transcrito também é citado por Frei Hugo Fragoso, art. cit., p. 39.

37. - A decisão da Diretoria do COB de enviar o Memorial a D. Augusto era o resultado de uma ríspida discussão que ocorreu na reunião da Diretoria do dia 10 de maio de 1961. Na Ata da Assembléia Geral Extraordinária de 13.08.1961, encontra se o seguinte relato: “...a diretoria foi surpreendida com a publicação de um programa em comemoração ao dia do trabalho no qual constava uma festividade da JOC na sede do Circulo Operário com a participação desta sociedade, sem que nenhum dos diretores tivessem prévio conhecimento, o que deu motivo de um protesto do Presidente em sessão de dez de maio do corrente ano. Este protesto irritou o Assistente Eclesiástico Frei Hildebrando, autor da concessão, que, exaltando se disse estar a Diretoria muito enganada, pois o Edifício "Pax" pertence exclusivamente a Comunidade Franciscana e nenhum direito assiste ao Círculo Operário, intimando por quatro vezes a esta sociedade retirar se daqui dizendo categoricamente: "A Comunidade Franciscana não se humilharia a pedir permissão do Círculo Operário para promover qualquer concessão em qualquer dependência do Edifício "Pax", e se não estão satisfeitos saiam ".

Cf. Livro de Atas da Assembléia Geral do COB, fls. 21 25.

38. - 0 artigo 55 é justamente aquele que afirma que em caso de dissolução ou extinção do COB, o patrimônio desta entidade deveria passar para as obras da Ação Social Católica mantidas pela Comunidade Franciscana na Bahia.

39. – Cf. Jornal “Diário de Notícias” de 21.12.1960.

40. – É muito provável que o número de 25.000 sócios tenha sido encontrado através da observação do número da carteira do associado. Formulo esta hipótese com base no fato de Ter encontrado fichas de associados admitidos no COB em fins da década de 50, com números próximos a 25.000. Isto significa dizer que, da fundação até aquele momento, 25.000 pessoas se associaram ao COB, mas não que houvesse este número de associados.

41. – Cf. Frei Hugo Fragoso, art. Cit., 39.

42. - Nos anexos desta dissertação há o quadro sobre o número de votantes nas eleições do COB de 1942 a 1964.

43. - Confederação Nacional de Operários Católicos. Quarto Congresso Nacional dos Círculos Operários do Brasil Arquivos, Rio de Janeiro, CNOC, 1942, pp. 50 59.

44. - Id. Ibid., p. 52..

45. - Guillermo Zermeño, La Iglesia, e1 cine y 1a "cuestion moral" en Mexico (1930 1960). Comunicação apresentada na II Conferência Geral da História da Igreja ria América Latiria e rio Caribe: 1945-1995.

46. - Cf. Apreciaciones. Catálogo de tos espectáculos censurados por 1a Legion de 1a Decencia, México, 1959, apud Guillermo Zermeño, comunicação cit.

47. - Os filmes citados são os seguintes: Robin Hood, Primavera, Maria Antonieta, Sinfonia Inacabada, Capitão Blood, Legião de Heróis, Com os Braços Abertos, Somos Todos Irmãos. Além destes, Frei Hildebrando se refere aos filmes de Deana Durbin, Shirlel Temple e outros.

48. - H. I. Marrou, Do conhecimento histórico, Martins Fontes, Lisboa, s/d., pp. 61 e ss.

49. - Cf. Confederação Nacional dos Operários Católicos, op. cit., p. 56.

50. - Id. Ibid. p. 56.

51 – Cfr. Frei Hildebrando, um ideal humanista e social, autor: Frei Edgar Stanilowski, OFM, Bardel, alemanha, 1996, Bureau Gráfica Editora.